quarta-feira, setembro 20

Planeta ou estrela falhada?

Uma questão sobre a qual continua a não existir consenso entre os astrónomos, embora tenha sido criada recentemente uma definição de planeta, mas só aplicável para os objectos do Sistema Solar, é o que define um planeta que orbite uma estrela que não o Sol.

Com o auxílio do Hubble foi obtida recentemente a imagem de um dos objectos mais pequenos alguma vez visto em torno de uma estrela anã vermelha designada por CHRX 73. Esse objecto, com cerca de 12 vezes a massa de Júpiter é suficientemente grande, pelo que poderá ser uma anã castanha isto é, uma estrela falhada.
A descoberta de um cada vez maior número de objectos de pequenas dimensões, com massas planetárias, leva os astrónomos a interrogarem-se se todos esses objectos serão sempre planetas.
Alguns astrónomos sugerem que um objecto só é um planeta se tiver sido formado a partir do disco de poeira e gás que geralmente se encontra em torno de uma estrela recém-nascida (disco proto-planetário), que foi o que aconteceu com os planetas do nosso Sistema Solar, formados há 4,6 mil milhões de anos.

Em contraste com os planetas, as anãs castanhas formam-se como as estrelas, a partir do colapso gravitacional de grandes nuvens de hidrogénio. Isto é, essas massas enormes, ao contraírem-se sobre si próprias, desenvolvem pressões enormíssimas e por consequência temperaturas elevadíssimas, que levam ao desencadear da fusão nuclear que as irá alimentar. Ao contrário das estrelas, não possuem massa suficiente para dar início às reacções de fusão do hidrogénio nos seus núcleos e por isso nunca se tornam estrelas, isto é nunca adquirem luz própria, aquela velha distinção que aprendíamos na escola, entre estrelas e planetas.

O objecto agora descoberto, o CHXR 73 B, encontra-se a 31.2 mil milhões de quilómetros da sua estrela anfitriã CHRX 73, que possui cerca de 2 milhões de anos, muito nova comparada com o Sol que tem 4,6 mil milhões e encontra-se tão distante da estrela, que é pouco provável que se tenha formado num disco existente em torno desta.
Para estrelas de pouca massa, como é o caso da CHXR 73, os discos possuem entre 8 e 16 mil milhões de quilómetros de diâmetro. À distância a que o objecto se encontra da estrela, não existe material suficiente para formar um planeta. Os modelos teóricos mostram que planetas gigantes, como Júpiter, são formados a distâncias não superiores a 5 mil milhões de quilómetros das suas estrelas.

Apresentamos abaixo a fotografia obtida pelo Hubble:


Desde que as anãs castanhas foram descobertas, há cerca de uma década, que os astrónomos têm vindo a descobrir centenas destes objectos na nossa galáxia. A maioria não se encontra em órbita de uma estrela, mas sim a flutuar pelo espaço.

Uma das formas de se esclarecer a dúvida que permanece acerca da natureza do objecto descoberto, seria observar um disco de poeira em torno do mesmo. Tal como as estrelas, as anãs castanhas possuem discos em torno delas, mas o seu diâmetro não ultrapassa 4 mil milhões de quilómetros.

(texto elaborado a partir de elementos colhidos no último ASTRONOVAS recebido, lista de distribuição de notícias de Astronomia em Português, publicado pelo Observatório Astronómico de Lisboa, Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa)

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12 Comentários:

Às 20 setembro, 2006 14:16 , Blogger augustoM disse...

É interessante a existência de objectos que flutuam no espaço, não sendo planetas por não serem originados, como descreve, como teriam aparecido? Sem movimento de translação, terão movimento de rotação, ou estão inertes? se assim o for, ou contrariam a teoria do Big Bang, ou vijam no espaço acompanhando a sua expansão, mas a incógnita da sua origem mantem-se.
Um abraço. Augusto

 
Às 20 setembro, 2006 18:38 , Blogger Peter disse...

Augusto, é o movimento de rotação que lhe confere a esfericidade.
Nada está inerte. A expansão continua, será infinita, ou haverá regressão? Podem analisar-se e discutir-se as duas hipóteses.
Quanto à origem dos corpos é sempre a mesma: acreção.
Depois, consoante o tamanho, assim teremos estrelas, ou planetas.
A força da gravidade é a responsável por isso, assim como é pelo movimento de translação em torno doutro objecto, não necessariamente uma estrela.
Não esqueça que só cerca de 10% do Universo é matéria bariónica, os restantes 90% são "dark matter" e "dark force", que ninguém sabe o que é, ou o que a constitui, mas que há provas científicas da sua existência, nomeadamente provocando o desvio da luz proveniente de galáxias distantes, ou interferindo com a gravidade.

 
Às 21 setembro, 2006 11:14 , Blogger Amita disse...

Para uma leiga como eu nesta matéria mas sempre curiosa, astes artigos são muito interessantes, assim como as explicações às perguntas acima que o complementam.

 
Às 21 setembro, 2006 12:36 , Blogger Papoila disse...

Qualquer um destes artigos é fascinante... Tanto ainda a descobrir... tanto que investigar... Beijo

 
Às 21 setembro, 2006 14:10 , Blogger Menina Marota disse...

A Ciência que nos dá maravilhas ainda por descobrir.
Gostei imenso de ler este texto.

Um abraço ;)

 
Às 21 setembro, 2006 14:16 , Blogger Peter disse...

"bluegift", vê-se bem que tens estado de férias. Estás "desactualizada", lê:

Eight Planets and New Solar System Designations

Explanation:
How many planets are in the Solar System?
This popular question now has a new formal answer according the International Astronomical Union (IAU): eight. Last week*, the IAU voted on a new definition for planet and Pluto did not make the cut. Rather, Pluto was re-classified as a dwarf planet and is considered as a prototype for a new category of trans-Neptunian objects. The eight planets now recognized by the IAU are: Mercury, Venus, Earth, Mars, Jupiter, Saturn, Uranus, and Neptune. Solar System objects now classified as dwarf planets are: Ceres, Pluto, and the currently unnamed 2003 UB313. Planets, by the new IAU definition, must be in orbit around the sun, be nearly spherical, and must have cleared the neighborhood around their orbits. The demotion of Pluto to dwarf planet status is a source of continuing dissent and controversy in the astronomical community.

Credit: International Astronomical Union

* 24 AGO 06

Adoro esta música, pertence à categoria das inesquecíveis. É um CD que consta do álbum que trago no carro. Obrigado por a teres colocado. A tanto não me chega o engenho e arte.

 
Às 21 setembro, 2006 14:19 , Blogger Peter disse...

"amita" o Augusto deu uma ajuda com as suas pertinentes perguntas às quais tentei explicar na medida das minhas possibilidades.

 
Às 21 setembro, 2006 14:26 , Blogger Peter disse...

"Papoila", tu e eu somos feitos de "matéria bariónica" (átomos) assim como tudo o que vemos no Universo.
Mas TUDO isso é apenas 10% do que existe.
E os restantes 90%, de que são feitos? Não os podemos ver, apenas detectar os seus efeitos ...

 
Às 21 setembro, 2006 14:33 , Blogger Peter disse...

"menina_marota" fiquei satisfeito por teres gostado.
Às vezes interrogo-me se não estarei a ser aborrecido focando estes assuntos que me fascinam, em vez de abordar os problemas (e são tantos ...) com que nos debatemos no nosso dia a dia.

Abraço;)

 
Às 21 setembro, 2006 22:48 , Blogger Heloisa B.P disse...

Meu Carissimo AMIGO, venho 2correndo ai' agarrada a cauda de um qualquer cometa ou planeta sem cauda e que as vezes tambem ja' nao e' PLANETA (li hoje acerca na revista que recebo da universidade), mas, venho mesmo so' com o objectivo de Lhe trazer UM ABRACO E O MEU AGRADECIMENTO, pela mensagem bonita que deixou la' no meu cantito!
estou a bracos com uma MUDANCA de residencia e, isto por aqui esta' caotico!!!!!
Quando estiver reinstalada e com Internet, voltarei aqui para CALMAMENTE LER E VER TUDO O QUE NOS DIZ E MOSTRA!!!!!
_FICA O ABRACO_EXTENSIVO AOS RESTANTES COLABORADORES e, ate', se mo permite, a eventuais leitores e AMIGOS SEUS que simultaneamente, sejam meus tamvbem e, com quem estou em MUITA FALTA!!!!!
_FICA MEU AMIGO ABRACO, ENTAO!
_ATE' BREVE!!!!!
Heloisa.
************

 
Às 21 setembro, 2006 22:52 , Blogger Heloisa B.P disse...

UM BEIJINHO A *BLUEGIFT*,
Vi-A, por ai' nos COMENTARIOS!!!!!
Heloisa.
**********

 
Às 22 setembro, 2006 12:48 , Blogger Peter disse...

"bluegift":

"There is both a size limit, and a requirement that the object sweep out its orbit.(...) Dynamical astronomers argued that the orbital criteria (that the object dominate its orbit) was equally important, thus excluding Pluto, and these many other small objects from the "classical" planets."

Como salientas em “negrito”, teria sido essa a razão que retirou a Plutão o título de “9º planeta do Sistema Solar”.

Um pouco de história:

Desde 1979 até 11 de Fevereiro de 1999, Plutão era o 8º planeta do nosso sistema solar. Foi então que no seu movimento orbital (248 anos) em torno do Sol, cruzou a órbita de Neptuno, tornando-se assim o 9º planeta, situação que manteria por mais 228 anos.
Isto deve-se à inclinação da sua órbita (17,1º) em relação à “eclíptica”. Exceptuando Mercúrio (7º) todas as órbitas dos restantes planetas situam-se muito próximas do plano daquela..
Após a morte do seu descobridor, o astrónomo amador americano Clyde Tombaugh (1997), vários astrónomos insistiram junto do IAU (“International Astronomical Union”), organismo que atribui a designação oficial aos objectos celestes, para que Plutão perdesse a designação de “planeta”. Houve grande contestação, mas o referido organismo, talvez por influência dos EUA, manteve a designação de “planeta”, que continua, apenas precedida de “small”.
Mas já anteriormente a esta reunião da IAU em Praga, havia muitos astrónomos que qualificavam Plutão como TNO (Trans-Neptunian Object ).

 

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