O Condor
Conta-se o dia em que o Sol se encontrou com a Lua, conta-se. Há muito o Sol andava tristonho pela Terra. Os seus raios já não eram tão fortes como antes, e por mais que o fizesse, era sempre encoberto por alguma nuvem escura que percorria o céu num forte vendaval.
Os pássaros, as flores, os animais, todos se questionavam sobre o distanciamento do Sol.
Numa manhã que seria mais bonita se o Sol estivesse no esplendor total, uma ave de voo inigualável chamada Condor arriscou-se e quis tentar conversar com o astro rei.
O Sol percebendo a dificuldade do Condor, tranquilizou-o dizendo:
- Linda ave de voo quase perfeito, porque queres chegar a mim, se estou por toda a parte deste planeta?
O Condor já exausto pelo voo respondeu:
- Gostaria muito de saber o que o deixa tristonho. O planeta está quase sem a tua luz, os pássaros já não sabem mais para onde ir, as flores, principalmente o girassol já não sabe se fica acordado ou se dorme; os animais já não sabem mais se ficam nas suas tocas, ou saem para caçar; as lavouras estão a perder-se... Tudo está tão confuso que resolvi arriscar este voo e perguntar-lhe qual é o problema?
O Sol percebendo a preocupação do Condor disse-lhe:
- Não sabia que estava causando tantos transtornos, confesso que me absorvi nos meus pensamentos, que não me dei conta do que estava a fazer. Posso tentar solucionar isto tudo, prometo tentar...
O Condor percebendo a dúvida que ficou nas palavras do Sol, ainda insistiu na mesma pergunta:
- Mas o que está a acontecer?
O Sol ainda encoberto, disse-lhe:
- Acho difícil alguém me ajudar... Muito difícil mesmo...
E já que está disposto a conversar, diga-me: você já amou alguém, Condor?
O Condor apoiou-se nas encostas de uma montanha, baixou a sua cabeça sem olhar para o abismo e respondeu:
- Sim, já amei... Amei uma linda ave, que não era um Condor...
Amei e sonhei... Muito...
E porque razão me pergunta isto?
Você que é o Sol! Que possui bem mais dotes do que eu, que possui o poder nas suas mãos…
Não é possível que não consiga conquistar o amor de sua amada. Qualquer dama se renderia à sua luminosidade, ao seu esplendor, ao seu magnetismo natural, ao seu calor...
E antes mesmo que o Condor continuasse o Sol o interrompeu dizendo:
- Qualquer uma, menos ela...
O Condor já intrigado com tanta curiosidade perguntou:
- Quem, Sol? Quem é ela? Que dama ofusca os seus olhos?
O Sol, então olhou para o infinito e disse-lhe com o semblante bem tristonho:
- A Lua... A Lua, amigo!
Neste instante o Condor, com respeito pelo Sol, interrompeu o seu sorriso e disse-lhe:
- A Lua? Como? Apaixonou-se por ela? Como é que isso aconteceu?
O Sol percebendo o espanto do Condor, respondeu-lhe:
- Aconteceu porque nos encontrámos por algumas vezes... por fracções de segundo em alguns lugares…..mas nos encontrámos!
Por que está surpreendido com isso?
O Condor percebendo que o Sol já se estava a exaltar tentou explicar:
- Por favor, amigo, não quero que fique assim comigo. Apenas estranhei a Lua ser sua amada...
- Estranhou como? Nunca perguntei quem você amou ...
O Condor então disse:
- Sim, você está certo... Desculpe-me. O que estranhei foi que você viu muito pouco desta bela criatura, para poder apaixonar-se por ela.
Neste instante o Sol então respondeu:
- Sim muito pouco... Muito pouco mesmo... Mas nestas poucas vezes, Vi dentro dos olhos dela.
Vi toda a beleza que ela trazia dentro de si, Vi o seu coração…
Senti-o bem próximo de mim.
O Condor, observou que o Sol lhe falava mas os seus olhos estavam fixos no infinito, procurando talvez os olhos da Lua.
Então disse-lhe: tenho que pensar numa maneira de o ajudar. E ajudando-o estarei sendo ajudado... não só eu, todo o planeta!
O Sol com mais emoção então perguntou:
- Como poderá ajudar-me?
- Devagar amigo! Primeiro preciso de encontrar alguns amigos de hábitos nocturnos e depois darei a resposta.
E o Condor saiu voando e em menos de 5 horas, quase à noitinha, apareceu junto à encosta de uma montanha onde o Sol já se reclinara para adormecer e disse-lhe:
- Veja amigo, o que trouxe … São vários amigos de hábitos nocturnos e todos eles estão dispostos a ajudá-lo se você continuar durante o dia no céu, mais forte do que nunca!
É esta a única condição imposta por eles para o ajudar.
O Sol intrigado com tantos animais ao seu redor, perguntou:
- Então digam, o que fariam?
Neste instante uma coruja com a fisionomia bem experiente e sábia, disse-lhe:
- Levaríamos à Lua os seus recados, as suas notícias... Tudo o que precisar.
O Sol neste momento bramiu com grande satisfação ao dito pela coruja.
E depois sorriu aliviado dizendo:
- Então digam-lhe o que nunca tive tempo para dizer… pois quando nos víamos, ficava tão preocupado pelo pouco tempo de encontro que me esquecia de lhe dizer...
Digam-lhe que a amo, que estarei sempre à espera de nos encontrarmos.
Que serei guardião do dia e ela será a guardiã da noite... E trabalhando juntos, os dias e noites se passarão sem erros e nos veremos novamente!
E quando nos encontrarmos novamente, a amarei mais e mais...
Nem que demore meio século para este encontro, mas a amarei.
Os animais emocionaram-se com a clareza e transparência do Sol. Agora sim, ele foi sincero no seu sentimento. Ele não o escondeu entre as nuvens escuras e não teve medo de falar do que sentia.
E a noite chegou.
A primeira a levar o recado foi a coruja. Do alto de uma árvore disse à Lua as palavras do Sol.
Naquela noite, uma chuva muito branda molhou a Terra.
Cada gota de água da chuva representava emoções e sensibilidade da Lua.
Cada gota de chuva representava lágrimas de amor da Lua. Lágrimas de esperanças, de satisfação.
Agora a Lua sabia que não estava só... E um dia se encontraria novamente com o Sol.
Nem que demorasse meio século, mas o encontraria na imensidão do tempo.
(Adaptado dum texto de Márcia Aparecida Silva Zauza)
9 Comentários:
"lazuli", belíssimo texto e original, não uma adaptação como é a do artigo, que achei interessante, mas que já deve ter corrido milhas pela NET.
Bom fds*
Peter parece que já resolveste a questão da banda sonora. E que bem, amigo.
Que belo conto.
Que conto tão belo Peter.
A iluminação do condor e a sabedoria da coruja aliadas na ajuda ao Sol e à Lua.
Há encontros assim.
Beijo
"papoila", acho este pedaço do texto particularmente interessante:
"Digam-lhe que a amo, que estarei sempre à espera de nos encontrarmos.
Que serei guardião do dia e ela será a guardiã da noite... E trabalhando juntos, os dias e noites se passarão sem erros e nos veremos novamente!
E quando nos encontrarmos novamente, a amarei mais e mais...
Nem que demore meio século para este encontro, mas a amarei."
"ant", quem resolve esses problemas é a "bluegift". Para já resolveu o problema das folhas brancas que começaram a aparecer por baixo da folha principal e
colocou uma nova música no vídeo, mas sem imagem...
Deixemo-la trabalhar.
Apareceu aí um leitor: "ognid", que num comentário que fez ao meu artigo "Direitos de autor", diz o seguinte:
"É um post no minimo estranho, principalmente tendo em consideração quem é o teu companheiro neste blog e as muitas coisas que se passaram há cerca de 2 anos."
Como o "meu companheiro de blog" és tu, se assim o entenderes, talvez seja de perguntares ao senhor qual é a ideia dele.
A convite do Ant vim conhecer este cantinho...
Conheço várias histórias do Sol e da Lua...Por isso o Eclipse é algo único... breve mas intenso...
Este conto só vem revelar que nesta vida certos encontros são eternos... Quando se ama, a dimensão dos sentimentos são incalculáveis.
Vim iluminar o conto, mas sou um Sol feminino (e a Lua a minha melhor amiga)...
Beijinhos:))
"sol" e vieste iluminar bem. O teu blog é maravilhoso e não fica nada mal entre os n/links, antes pelo contrário.
e assim se cumpre o destino do Sol, de andar andar atrás da Lua.
bela pararábola!
Aconselho vivamente a ler o artigo do "herético", (consta dos n/links):
"Ratzinger versus Willy Brandt?!..."
é do melhor que se tem escrito por aí.
Uma análise lúcida, inteligente e extremamente bem escrita, que mete a um canto as "escrevinhadelas" dos nossos "jornaleiros".
Bom Domingo, amigo.
P.S. - Quando leio por aqui certos pavões, com a sua corte de bajuladores, dá-me vontade de rir ...
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