O homem que vende lenços de papel
Habituamo-nos, nesta cidade enorme, a cruzarmo-nos com certos tipos que se tornam senão como familiares, pelo menos como personagens característicos que se integram no nosso quotidiano.
Há já uns anos, três, quatro, que encontro no percurso Av João XXI – Praça do Areeiro, um indivíduo que tem todo o aspecto de ser ucraniano. Nunca lhe ouvi uma palavra, limita-se a mostrar umas embalagens de lenços de papel, que ninguém compra, pelo menos nunca vi ninguém comprar.
Sempre impecavelmente lavado, barbeado, cabelo tratado, vestindo roupas limpas e passadas a ferro: uma camisa e umas calças. Mete a um canto esses nojentos compatriotas nossos, que andam por aí, drogados que “deitaram a vida pela janela fora” e outros que tais.
Interrogo-me como consegue sobreviver. De início, arrastava um carrinho, com um barril de cerveja, possivelmente cheio de água que lhe devia servir para as suas abluções matinais, mais uns dois sacos de plástico. Agora já não. Deve ter arranjado onde viver pois nada traz consigo, apenas 6 pequenas embalagens.
Hoje lá estava ele, na Praça do Areeiro, oferecendo os seus pacotes de lenços que ninguém compra.
Senti-me tentado a abordá-lo, ao fim e ao cabo já é um velho conhecido…
5 Comentários:
A vida por vezes não é justa. Infeliz daquele que não consegue aproveitar a "sorte" que se lhe depara.
Na vida, há que lutar, nem que seja para não termos que transportar os sacos de plástico.
lazuli, o que me impressiona é a limpeza e a postura e dignidade que ele mantem inalteráveis.
Mas também o mistério:
- porque é que ele nunca disse uma única palavra?
- como consegue sobreviver e manter aquela postura, tentando vender pacotes de lenços de papel que ninguém parece comprar?
caçadora_de_sonhos, estive no teu blog.
Como digo na resposta à "lazuli", admiro a postura com que ele se apresenta. É mesmo isso que sempre me chamou a atenção e que ele tem mantido inalterável.
Passam a fazer parte da nossa vida e quando deixamos de os ver, depois até estranhamos. Há uns 20 anos na R. Rodrigues Sampaio (acho q não me estou a enganar no nome da rua) ao pé da Smarta (café) estava sempre um cego a pedir. Trabalhei ali pouco tempo mas uma colega q por ali andava há anos, dizia-me que todos os dias dava uma moeda ao cego. Já era como tomar o café da manhã ou comprar o jornal. Um hábito. Alguém a quem até se cumprimenta. Que faz parte dos nossos dias, da nossa rotina.
Beijos e bom domingo
Tens razão Dulce:
"Passam a fazer parte da nossa vida e quando deixamos de os ver, depois até estranhamos."
Bom Domingo tb para ti*
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