Sem amanhã
As cortinas queimadas por acção do Sol ondulam ao sabor de uma brisa suave e inaudível. Inusitado silêncio tumular este que me consome!
Nem o mais leve ruído para quebrar a (in) tranquilidade de um dia amarelo, resplandecente e brilhante. O Astro-rei confunde-se já com os limites ilusórios do horizonte, inatingível, procurando esconder-se dos olhares cobiçosos, envergonhado pela impertinência de um calor sufocante, transversal, queimando sem exclusão, terras, secando águas, desnorteando pessoas e confundindo tudo o que é ser vivo no planeta.
[A interrupção incómoda do som avisador de mensagem recebida quebrou por um milésimo de segundo o silêncio. Sepulcral]
O olhar a terra queimada e o suscitar de imediato a analogia: o desperdício dos dias jogados fora, o constatar do vazio de uma vida [sem amor] inglória, a angústia do tempo que falta para o último cerrar de olhos, o eterno cerrar de olhos quiçá por uma mão invisível.
Somos páginas chamuscadas de um livro ainda não escrito, mas que talvez ainda possamos rabiscar, deixando letras, apenas letras, que traduzem uma forma de estar num mundo onde não se desejou permanecer.
[O candeeiro de canto parece fitar-me maldosamente. Como se adivinhasse que [me] [te] sobrevirá.
A ausência de letras [a recorrência da figura literária da ausência é a constatação de todas as ausências. Recorrência compulsiva, doentia, entorpecedora, analítica e ao mesmo tempo apenas e só ausência. Pesa carregar este fardo incómodo durante toda uma vida] tal como a ausência de amor, a inexplicabilidade dos dias deitados fora, perdidos, insolúveis, como insolúvel é este espaço de tempo em que movimento. Anacrónico!
As cortinas desbotadas continuam o leve ondular. É sem dúvida a incondicionalidade da vida e a inevitabilidade da morte.
[Nunca saberei a que sabem os teus lábios?]
Que Deus louco permite que arrastemos o peso imenso de uma vida que se não viveu e se permite ainda cerceá-la quando lhe aprouver sem que segunda oportunidade seja considerada?
Suportar a impossibilidade é já carga enorme nas costas frágeis de humanos expostos às iras de um Deus semi-louco.
Ficará o desejo. [Sempre]
Ainda que sem amanhã. Algures no prolongamento da insanidade ou no despertar de toda a lucidez.
16 Comentários:
gosto de ler-te
jocas maradas
Sempre que te leio sinto-me a percorrer um pensamento que desperta os meus próprios pensamentos.É bom ler-te. Abraço
A renúncia implica numa escolha maior,
inalcançável aos olhos comuns.
Aos olhos humanos, pode parecer desvario.
Somente a alma pronta para ela haverá de compreendê-la,
pois sabe do que precisa, aquilo que quer...
Renuncia aquele que se encontra pronto para o verdadeiro Amor,
e o faz através da doação de si mesmo.
Pode ser um ato incompreensível, mas não descabido. Seu sentido
extrapola barreiras desconhecidas e somente a luz haverá de
conhecê-la em seu reduto mais íntimo.
O sol não renuncia a si mesmo em favor da noite?
Contudo, grande em sua doação, nos
encanta através da beleza do luar...
Renúncia: passo difícil, sem glórias, lauréus ou alaridos.
Passa incólume à maioria e sua essência sempre é o Bem Maior...
Quantas há, no dia a dia, que sequer percebemos?
Caros amiguinhos, o meu nome é Renato Carreira e fui alertado por amigos para isto: http://conversasdexaxa4.blogspot.com/2005_06_01_conversasdexaxa4_archive.html
Ao ler a entrada e os comentários respectivos, descobri, para grande surpresa minha, que o livro que publiquei no ano passado estava a ser atribuído a outra pessoa qualquer. Pouco depois, percebi que tudo passara de um mero engano. Afinal, o livro era mesmo de minha autoria mas continha textos de um colaborador deste blog que também é colaborador da Inépcia, juntamente com muitos outros. O que me fez estranhar. Primeiro, porque o autor de todos os textos da Inépcia (incluindo tudo o que foi publicado no livro) sou eu (como se pode depreender facilmente pelo nome impresso na capa). Segundo, porque o próprio admitia num dos comentários ser colaborador meu, chegando a aceitar elogios pelos textos.
Ora, isto diverte-me. E devo agradecer-vos muito porque é sempre bom arranjarmos motivo para rir. Não conheço o senhor em questão, nunca publiquei textos seus na Inépcia, não tenho nada a ver com este blog, nem com um tal "Inapto" de nome e esquema cromático suspeitamente familiares e desejo sentidas melhoras para o estado de saúde mental do meu caro colaborador fictício.
Um bem-haja a todos.
Renato Carreira
Bom dia, se me permite dizer, um texto maravilhoso. Como sempre, aliás!
Parabéns!
Tenha um bom dia.
Marta
Realmente andava a estranhar que o autor do blog Inapto afirmasse que era o Renato Carreira, mas o Ze do Conversas, que é o mesmo que o do Inapto conta que é dono do site Inepcia, e que Renato Carreira é apenas um seu pseudónimo.
Peter disse: O Zé é outro colaborador deste blog e autor do "inÉpcia".
O Renato Carreira já esclareceu que o colaborador deste blog não é autor do Inepcia.
Não comento "autores anónimos". O assunto já me ultrapassa, limitei-me a esclarecer um engano involuntário cometido por mim e nada mais tenho a acrescentar.
Cumpre também esclarecer o seguinte.
Salustio começou por dizer que lhe pareceu que o seu livro publicado no ano passado estava a ter a autoria atrobuída a outra pessoa, um tal de Ze, colaborador deste blog.
Depois afirma que acabou por verificar pelos comentários que o tal de Zé dizia ser um humilde colaborador desse site Inepcia e desse mesmo livro, coisa que ele, Salustio muito estranha, já que não conhece esse Ze de lado algum, nem é seu colaborador, coisa que o Zé afirma e até aceita elogios.
Salustio afirma que nunca publicou textos desse tal Zé que é colaborador deste blog na Inepcia, tudo não passando de invenção desse Zé.
Acrescento ainda, que esse tal Zé não só diz que é colaborador da Inepcia como chega a afirmar-se o próprio Renato Carreira, inventando até a forma como escolheu esse nome para pseudónimo.
Afinal, quem mente?
Gostaria de esclarecer que o autor dos comentários anónimos acima não sou eu. Por mim, o assunto está encerrado. A estranheza mantém-se (sugiro uma pesquisa no google com os termos "letrasaoacaso+inépcia"-o facto é que este blog tem um colaborador que, em mais do que um local, ou afirma ser meu colaborador ou ser eu próprio) mas optei por ignorar. É problema vosso que com ele têm de privar.
-clica no fundo da página em " INEPCIA" e vê como se pode subverter a notícia. Aquilo que não pode ser dito (escrito) no Jornal, está ali com muito, muito humor. Neste apenas colaboro. Não é o meu jornal. Sou cronista residente. O meu: www.vozdasbeiras.com Beijos Posted by: LetrasAoAcaso at junho 20, 2004 01:33 AM-
“O "Conversas de xaxa 4" é um blogue democrático, que inclui todas as tendências políticas e religiosas, pelo que a opinião dos participantes é da sua exclusiva responsabilidade.”
Pela minha parte assumo a responsabilidade pelo “post” abaixo. Mas não pelos comentários, como é óbvio.
QUINTA-FEIRA, JUNHO 30, 2005
Surprise ...
Um novo livro, que é também um livro novo.
Hoje, ao subir o Chiado, entrei como de costume na Livraria Portugal, visita que antecede sempre as minhas deambulações pela FNAC. Então não é que encontrei o INÉPCIA, escrito por um senhor Renato Carreira, com direito a foto numa das badanas, mas apenas dos olhos?
Quem anda aqui pelo "Conversas", conhece muito bem aquele título, pode é não conhecer aquele senhor. Folheei o livro, li algumas linhas e não tive a menor dúvida:
Renato Carreira=Zé=Letras_ao_Acaso.
Parabéns!
Que as edições se sucedam umas atrás das outras!
De que estais à espera? Bute, comprar o livro do Zé!
Renato Carreira, "INÉPCIA - o livro mais importante desde a Bíblia" - Com Prefácios de Deus (Nosso Senhor) e Cavaco e Silva.
O livro foi editado por COOLBOOKS
posted by Peter | 6/30/2005 07:17:00 PM | 13 comments
Neste momento, tenho dúvidas sobre a seguinte frase que escrevi:
“Renato Carreira=Zé=Letras_ao_Acaso.”
Mas não possuo elementos que me permitam formar uma opinião definitiva, até porque como se diz logo no princípio:
”a opinião dos participantes é da sua exclusiva responsabilidade.”
E, por “participantes” deve entender-se, como é óbvio, as pessoas que comentam.
está muito bonito.*
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