Solução final
Os “debates” televisivos entre os candidatos a Belém revestem-se de verdadeiro imperativo nacional.
Basicamente por causa da péssima qualidade dos canais televisivos. Faltam verdadeiros programas de entretenimento, despretensiosos, que animem o pessoal que está em profunda depressão por causa do maldito défice que se abateu sobre nós como a verdadeira gripe das aves.
O modelo escolhido –certamente mais uma pequena subserviência à «cultura» americana – é insonso e incapaz de esclarecer quem quer que seja.
A não ser que se esteja em presença de Louçã que no debate com Cavaco o cilindrou literalmente.
Foi visível o nervosismo do candidato da direita mais retrógrada que por cá continua instalada.
Este intróito mais ou menos sério serve apenas para situarmos os mais desatentos em relação às coisas da psicanálise.
Vejamos: se o modelo escolhido é um debate, temos de colocar algumas questões, sendo a mais premente esta: se querem entreter o pessoal porque não recorrer a uma série de meninas bonitas que pululam pela televisão, sendo verdade, é certo, que quando abrem a boca sai asneira. Porém, porque não proibi-las de falar aquando da assinatura do contrato? – Esta cláusula parece-me importante, porque nem os seios bem desenhados da Isabel Angelino resistiriam a uma frase completa –
Ora se cinco figuras públicas com ligações ao mundo duvidoso da política aceitaram fazer de figurões, de duas uma: ou não sabem o que disputam, ou se sabem, preferem alimentar-nos a alma com humor igualmente duvidoso.
As parcerias estabelecidas e a que já pudemos assistir resumem-se a um verdadeiro fracasso humorístico, sendo de aconselhar que se dediquem a outras actividades. É certo, que esta tentativa de fazer humor até tem um lado positivo: enquanto estão ali não estão nalgum lugar de decisão a fazerem asneiras.
Soares resolveu adoptar Alegre para fazer deste cana de pesca. Quanto a mim a escolha deveria recair num candidato mais magro e de mais fácil manuseamento. Por exemplo Cavaco.
Já imaginaram Cavaco com um anzol na boca tentando apanhar peixe miúdo? Qual seria a reacção dos peixes quando vissem aquela pose plástica? Engoliriam o anzol? – Eis algo verdadeiramente importante para nos debruçarmos e debatermos, sem esquecer uma representação dos peixinhos – salmões ou arenques? Se forem arenques, onde devemos pescá-los? –
Se a opção fosse Jerónimo, como usar a ditadura do proletariado num rio, ou até mesmo no mar? Se fosse no mar, seria que as sardinhas estariam de acordo? E se sim, quem comeria as sardinhas?
A outra alternativa parece-me despropositada: Louçã debaixo de água tentando apanhar peixe graúdo. Desde logo pela boca aberta e sempre disposta a disparar. Mas será que um arpão seria compatível com uma nova esquerda? E se sim, o que pensarão as percas, manifestamente bichos de direita? Morder-lhe-iam a boca e engoliriam o anzol? Se engolissem, não seria previsível que morreriam intoxicadas?
Na dúvida, Freud – apenas há alguns dias estes apontamentos do pai da psicanálise foram encontrados entre os pertences de Salazar – resolveria a situação facilmente. Cada um deles pescará um dos outros até que não sobre nenhum.
O País agradeceria.
5 Comentários:
Este artigo corresponde inteiramente àquilo que mais aprecio nos teus escritos. É muito bem estruturado, com um humor bem doseado, mas não agressivo, e em que os personagens e toda a encenação montada, são analisados exaustivamente sob uma perspectiva tanto quanto possível real.
Quanto a mim e de todos os candidatos, aquele que mais gostei de ouvir foi o Louçã. Não se atemorizou em entrar no feudo de Cavaco: a Economia, mostrando ter ideias bem assentes e estar dentro dos problemas.
É óbvio que é muito diferente um candidato, que não tem a mínima probabilidade de ser eleito, assumir determinadas atitudes (compromisssos?) do que um candidato que vai de certeza à final, fazê-lo.
Zé
Os candidatos presidenciais Manuel Alegre e Cavaco Silva travaram um debate moderado. Penso que é o primeiro de uma série de dez a realizar nas três televisões generalistas.
Alegre e Cavaco apenas apresentaram perspectivas marcadamente distintas sobre a importância da economia para a resolução dos problemas do país.
Numa das declarações mais marcantes do frente-a-frente, Cavaco Silva reconheceu que errou ao apontar, no Congresso do PSD de 1992, algumas instituições do Estado como «forças de bloqueio».
Isto foi o que de mais empolgante aconteceu neste debate (na minha opinião).
Quanto aos outros debates não vi. Mas este foi tão, mas tão morno diria até (amorfo). Não sei se terei paciência para ouvir os que faltam. Também, na verdade não sei quantos é que já foram. Se calhar estou a perder coisas muito importantes. E ando aqui de alma livre e despreocupada!!!
Mas ao ler o teu excelente texto, fico mais descansada – está tudo na mesma:)
Um beijo...
Gostei muito do texto mas tenho que discordar ... acho que o louçã falhou o alvo quendo disparou o arpão... de resto acho que a opinião generalizada dos portugueses esta bem retratada no seguimento do texto.
lazuli, estou em desacordo, porque não acredito na existência do reino dos céus, também não me considero "pobre de espírito" (pretensões ...) e, para mim, o fundamental é viver.
Desculpa não ir a resposta em latim, mas não tenho dito missa ultimamente (agora me lembrei que ela já não é dita em latim).
tenho de concordar e sublinhar o admirável sentido de humor
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