quarta-feira, dezembro 14

Recordações

Na vila onde nasci frequentei a então chamada Escola Primária, cuja frequência era obrigatória até à 3ª classe. Ali andei com rapazes (porque as escolas não eram mistas) de todos os extractos sociais. Era um privilegiado, pois tinha botas, enquanto que a maior parte dos meus colegas iam descalços.
Enquanto lá andava, saiu legislação que estendia a obrigatoriedade até à 4ª classe, o que originou fortes protestos dos latifundiários que, diziam, viam-se assim privados dos "ajudas" para os pastores.
Não havia nenhumas actividades extras, jogava-se futebol com bolas feitas de meias que as nossas mães coziam, depois de cheias com trapos. De vez em quando aparecia um "sortudo" com uma bola que nós chamávamos de “cautchu”, que eram as utilizadas pelas equipas de futebol da época. Eram de borracha resistente, envolvidas com um revestimento de couro, mas com atacadores também em couro. Tinham de ser cheias com uma bomba de bicicleta, que era coisa que ninguém tinha, e por isso tínhamos de pagar $50 na loja onde alugavam as bicicletas em que andávamos. Uma fortuna!

A cobiçada bola de “cautchu” saía com uns cromos de jogadores de futebol que envolviam uns rebuçados intragáveis e com os quais se ia enchendo a caderneta, à excepção do jogador premiado. Saía uma bola por caixa e o dono da mercearia, porque o comercio não estava diversificado como hoje, recebia do fornecedor a caixa de rebuçados e, num envelope à parte, o jogador premiado, que ele só metia dentro da caixa, quando os rebuçados estavam quase no fim. Então a malta fazia uma "vaquinha" e comprava os rebuçados todos que ainda havia na referida caixa.

Outra actividade extra-curricular era caçar pardais. Cada um de nós tinha uma fisga, que fazíamos a partir de um pequeno ramo de oliveira em forma de Y. Arranjávamos umas tiras de borracha das câmaras de ar dos pneus que já não servissem por terem demasiados remendos e um pedaço de cabedal, que o sapateiro nos dava e estávamos armados para a caça.

Não havia "game-boys" e outras dessas porcarias, que custam um dinheirão. A nossa formação intelectual completava-se com "O mosquito", um semanário de banda desenhada que circulava de mão em mão.

Pois é, hoje deu-me para isto ...

10 Comentários:

Às 14 dezembro, 2005 01:27 , Blogger Amita disse...

Pois deu-te muito bem! É sempre bom recordar. É Vida. Lembro-me vagamente dos meus irmãos e primos brincarem com uma bola assim; das fisgas também... fugia delas (lol); o arroz de pardais que a cozinheira fazia era uma delícia, embora eu fosse um pisco a comer (só com a ameaça da palmatória que nunca era utilizada, claro) (lol).
Obrigado, Peter, pelos felizes sorrisos que me trouxeste.
Um bjo e uma flor

 
Às 14 dezembro, 2005 03:46 , Blogger Peter disse...

amita,seria de sermos mais novos que temos saudade, ou será mesmo que eramos mais felizes na rusticidade e simplicidade das n/vidas, sem os ballet, as aulas de natação, de judo etc, com que roubam a infância às crianças?

 
Às 14 dezembro, 2005 03:51 , Blogger Peter disse...

lazuli, quem é que se deita mais tarde? São 03.50AM.

Besito*

P.S. - MAis fotos de Firenze se seguirão até dizerem: basta!

 
Às 14 dezembro, 2005 03:56 , Blogger Peter disse...

sutra, claro que quero auxiliar a "Ajuda de Berço". As instruções é que são complicadas para esta hora da manhã. Então não basta transferir o dinheiro para esse NIB?

 
Às 14 dezembro, 2005 11:41 , Anonymous Anónimo disse...

E deu-te muito bem Peter, tenho uma história muito gira para contar a propósito das bolas que saíam nos rebuçados... Nunca soube utilizar fisgas, mas aprendi a lançar o pião, tinha uma sorte danada ao "rapa", e sabia correr com um arco por caminhos de pedras! Também as minhas bonecas preferidas eram as de trapo feitas em casa!

 
Às 14 dezembro, 2005 11:45 , Anonymous Anónimo disse...

Sabes que o "Mosquito" que tu lias era desenhado por u ex-sogro meu?
O "Mosquito", "O Falcão", "O major Alvega" e mais uns quantos.
Fez porém trabalhos denominados "sérios" em parceria com um Francês, sobre diversas figuras da História Portuguesa.
É ainda hoje considerado um dos grandes mestres da BD portuguesa, pese embora o facto de já nãoe star no activo.
É Algarvio, onde se refugiou de novo, após ter saído de Lisboa.

 
Às 14 dezembro, 2005 12:31 , Blogger Peter disse...

maria papoila, conta e envia em anexo para o e-mail que está no blog. Eu depois publico-a com o teu nome. Tá?
No pião, fazíamos uma roda e tirava-se à sorte quem tinha de pôr um pião no meio dela. Depois jogavam-se os nossos piões de encontro ao que estava no meio. Quem conseguisse pô-lo fora da roda ficava com ele.

 
Às 14 dezembro, 2005 12:34 , Blogger Peter disse...

zezinho, tenho muita bibliografia sobre BD. Correspondeu a uma fase da minha vida, mas continuo a ir anualmente à Expo da Amadora.
Como se chamava o senhor?

 
Às 14 dezembro, 2005 12:39 , Blogger Peter disse...

Lúcia eu penso que todos esses jogos electrónicos actuais, têm contribuido para o isolamento do indivíduo, para o ensimesmento, afastando-os do convivío com os outros rapazes, das brigas que acabavam em bem e do convívio com a natureza.

 
Às 14 dezembro, 2005 16:38 , Anonymous Anónimo disse...

João José André Baptista, que chegou a ser director da Agência Portuguesa de Revistas.
É ainda hoje uma das maiores referências da BD portuguesa

 

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