quinta-feira, dezembro 15

LOUÇÃ E OS DEBATES

Tinha resolvido não insistir demasiado nos temas políticos, pois entendo que estes têm os seus lugares próprios onde são tratados e quem procura este blog, na maior parte dos casos, procura uma evasão à crueza do quotidiano.

Neste momento estão em causa as eleições para a PR. Pelo que me tem sido dado ouvir, nenhum dos candidatos tem algo de novo para me dizer e eu, neste momento, em nenhum me revejo.
Tenho de reconhecer que o mais brilhante tem sido, sem sombra de dúvida, Francisco Louçã, o que não significa que vá votar nele, até porque o voto é secreto.

Faço parte daquele imenso grupo dos indecisos, não sou político convicto e voto de acordo com aquilo que me parece melhor servir as minhas conveniências. Serei pois um oportunista, até porque em relação a alguns candidatos, pouco sei do seu percurso político. Ora um artigo publicado hoje no "Publico" por J. Pacheco Pereira, político que também não colhe a minha simpatia, mas a quem reconheço um dom de palavra, uma escrita fluente e uma vasta e ecléctica cultura, esclareceu-me sobre o porquê do sucesso de F. Louçã. Dele transcrevo um pequeno extracto:

(...)
”4. O que Louçã tem conseguido é seu mérito e demérito alheio. Ele é um dos políticos portugueses mais experientes e mais velhos na função. Fazendo política profissional desde a adolescência, antes do 25 de Abril, tem mais experiência do que Jerónimo de Sousa e Cavaco Silva, ombreando com Soares e Alegre, que, no entanto, têm a desvantagem de parecer muito mais "velhos" do que ele. Mais: Louçã fez toda a sua vida política em grupos radicais nos quais o debate e a discussão, oral e por escrito, é sistemática e permanente. Como quadro trotsquista, actuando nos grupos trotsquistas portugueses e na Quarta Internacional, Louçã participou de parte inteira em grupos que não só são internacionalistas e cosmopolitas, como incluem gente muito brilhante e capaz, de que ele faz parte de pleno direito. Mais do que qualquer outro dos seus companheiros de corrida presidencial, Louçã tem milhares e milhares de horas de discussão por detrás, discussões muitas vezes duras, escolásticas, doutrinais, sobre nuances políticas exploradas até à exaustão. Se a isso somarmos a sua experiência académica, os seus hábitos de estudo e leitura, e a sua inteligência, temos a chave das suas capacidades."

(...)
"9. O mundo de Louçã, que é transparente para quem conheça as suas posições, é obscuro para quem apenas o ouça a fazer grandes debates e para a maioria das audiências que o conhece apenas da televisão e da propaganda. O que é que ele realmente pensa da economia de mercado? Como é que ele entende as empresas no seu país ideal, como vê a propriedade privada, até onde é que ele pensa que devem ir os impostos para financiar o país providencial que sugere ser o alfa e ómega do seu programa político?Não basta só falar do desemprego e da segurança social, dos impostos, e enunciar um programa meio sindicalista, assistencial e de fiscalidade punitiva dos "ricos", completamente irrealista. Esse programa levaria a uma forte conflituosidade social, ao encerramento de muitas empresas, à fuga de capitais, ao fim do investimento e seria ineficaz sem repressão. O programa de Louçã nunca aparece nos debates, mas é a uma espécie de PREC que conduz. Ouvi-lo pode ser mavioso, moderno e desempoeirado, mas tomá-lo à letra é sinistro."

2 Comentários:

Às 16 dezembro, 2005 00:43 , Blogger Peter disse...

tribunal_beatas, "Louçã é um socialista colectivista, uma forma peculiar de comunista, se o termo não estivesse tão abastardado, um revolucionário de raiz leninista, aceitando o princípio do direito à violência para derrubar o "capitalismo", defensor de um regime político-social autoritário, sempre presente como pano de fundo na lógica da sua argumentação. Ele nunca o dirá, porque somente faz a crítica ao existente."

 
Às 16 dezembro, 2005 14:39 , Anonymous Anónimo disse...

Permito-me discordar de quem escreveu o artigo e os comentários. Uma sociedade justa é possível. Sou obviamente suspeito já que as minhas ligações ao BE e antes à FEC-ML e depois à UDP são evidentes. Revejo-me nesse conceito colectivista dos meios de produção e de uma justa distribuição da riqueza.

 

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