As minhas questões existenciais
Hoje vesti um kilt.
É certo que o mesmo até me poderia ficar bem, não fora a questão insolúvel da minha tíbia esquerda. É magra. Muito magra.
Cascão, o cão do vizinho do 3º direito não perde uma única oportunidade de me dar uma valente ferradela na dita. Sem grande êxito, porque os dentes já lhe caíram há muito e o meu osso tibioso é duríssimo de roer.
Porém, não resisto eu também em dar umas valentes dentadas no malfadado cão. Sempre na pata posterior direita, não vá o gajo correr que nem louco abrir o kilt e comer-me a única coisa que tenho de realmente valiosa.
Cascão sofre de uma depressão cataléptica e anda a ser tratado pelo doutor Cesário, reconhecido psiquiatra da nossa praça. Este ilustre médico desloca-se num velho carro e faz trabalhos ao domicílio; dentro do automóvel esfarrapado umas boas dezenas de gatos acompanham-no para todos os locais.
Claro que para o Cascão isto é um verdadeiro insulto e agora sempre que vai à consulta leva a tiracolo o livro da Margarida Rebelo Pinto, “Não há coincidências”, a única frase feliz construída por esta famosa escritora. Ainda assim, a construção da frase deixa muito a desejar. Porque o plural de “há” é hão”, o que seria mais apropriado. Logo, o título deveria ser alterado para “Não hão coincidências”. Esta temática do foro gramatical tem preenchido a mente mesquinha do cão que teima em me morder a tíbia.
Atreveu-se mesmo a levar esta questão a um congresso de linguística que abordou entre outras temáticas, “o uso indevido da boca”, “Já não tenho dentes para isto” e “Maldita tíbia”. Entre muitos outros foi possível ver na plateia, Veríssimo Serrão, Pedro Mantorras, que abordou a questão “qual a diferença entre mim e o Cascão?”, a que alguém respondeu: “o Cão tem mais pelo”.
Mantorras olhou-se e perguntou-se porque é que nunca havia dado conta desse pormenor.
Porém, o uso do kilt é um verdadeiro teste de sobrevivência. Fui assobiado na rua por umas centenas de mulheres; resta-me saber se por gostarem das minhas pernas, ou se por acharem a tíbia um verdadeiro problema. Na dúvida, tapei-a com um enorme cobertor de uma conhecida marca de cigarros.
Agora passei a transportar a tíbia debaixo do braço, o cobertor, o Cascão, o Mantorras e o livro da Margarida Rebelo Pinto.
É com todo este arsenal que me dirijo ao psiquiatra todos os dias. Claro que com o Cascão, a quem vou mordendo alegremente.
Estamos pois, ambos no bom caminho: ele deixou de me morder a tíbia e eu passei a morder-lhe a pata posterior esquerda, que já começa a apresentar verdadeiros sinais das minhas dentadas.
Aos berros vou ouvindo “E tudo o vento levou”, uma conhecida canção do regime antigo
9 Comentários:
Quer dizer que és tu o autor do livro: "O homem que mordeu o cão"?
ACABEI DE LER NO *INAPTO*!
_SORRI, como sempre!
_Destaquei esta parte:
"Claro que para o Cascão isto é um verdadeiro insulto e agora sempre que vai à consulta leva a tiracolo o livro da Margarida Rebelo Pinto, “Não há coincidências”, a única frase feliz construída por esta famosa escritora. Ainda assim, a construção da frase deixa muito a desejar. Porque o plural de “há” é hão”, o que seria mais apropriado. Logo, o título deveria ser alterado para “Não hão coincidências”. Esta temática do foro gramatical tem preenchido a mente mesquinha do cão que teima em me morder a tíbia."
..........................E... destaco do "DESTAQUE":
"Porque o plural de “há” é hão”, o que seria mais apropriado. Logo, o título deveria ser alterado para “Não hão coincidências”."
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VOLTO A SORRIR!!!!!!!
E, interrogo-me:"como e' que ainda fico assim, com este ar de admiracao, quando ja' conheco "BEM" o SEU INCOMPARAVEL E MORDAZ ESTILO!?...
......................Fica meu ABRACO!
MINHA SAUDADE!
E... meu sincero pedido de DESCULPAS, para SI* PETER e TODOS os que AQUI COLABORAM, por meu "absentismo":nao e' deliberado!
PAZ E SAUDE!!!
DA AMIGA,
Heloisa B.P.
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fartei-me de rir, gostei de ler.te
jocas maradas ou melhor mordidas maradas
Fantástico ! Boa sorte para ti e para o Cascão !
Zé
As tuas “crises existências” são uma verdadeira terapia :))
Está uma delicia – mordaz – que me faz soltar o rir, aquele com vontade!
Adoro Kilts............... gostaria imenso ver-te de Kilt (estou a imaginar) :) os homens ficam charmosíssimos.
Diverti-me imenso a ler o teu texto. Conheço a Margarida fomos colegas e parceiras dos jogos de Verão em S. Martinho do Porto. Nem o “Não há coincidências” consegui ler todo e não tentei ler mais nenhum. Pode ser que um dia... quem sabe! Perdoa lá, Margarida :)
Beijinhos
heloisa, devo-lhe uma satisfação: retirei-a dos links, porque pensei que tinha abandonado estas "lides". Mas, como voltou, vou reintegrá-la novamente nos n/links e com o maior prazer. Só incluo o blog primitivo.
Obrigado pelas palavras amáveis para connosco.
:)))Passar por aqui foi sem dúvida a melhor escolha para terminar o sábado da melhor maneira.
lazuli, o que mais me preocupa é ele a morder o cão!
Não te mandei beijinhos, mas umas cartinhas, que estão aí por cima. Além disso, logo de manhã, passei pelo teu blog a dar os bons dias.
nais do que engraçado!
Com todo o sentido metafórico!
Há muita maneira de matar pulgas...
e de morder cães, também.
***
maat
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