quarta-feira, novembro 30

Além das palavras

O penetrar o denso nevoeiro que abafa a luz artificial da noite, numa vã tentativa de enganar a mente, irromper no cinza brilhante e desaparecer no seu interior, antevendo a possibilidade – remota – de te descortinar entre os espasmos difusos da negritude que se move traçando estranhos desenhos e desígnios, quase gnósticos, parece ser o objectivo deste mergulho no abismo de mim.

Saltar no vazio e sentir o êxtase de águas límpidas tocando ao de leve o corpo na sua queda e o desejar que no fim desse voo rasante interminável o encontro aconteça.

Pequenas partículas de água – gotas talvez – fizeram essa viagem sem regresso, acompanhando [me] durante todo o percurso rectilíneo até à confluência de todas as águas, agora fogo, evaporando no sentido inverso um denso fumo, fruto da fricção. Depois, a paz infinita do desaparecimento – ou do encontro cara-a-cara comigo mesmo? – na tranquilidade do paraíso prometido. (O suicídio como forma única de libertação, por não obedecer a desígnios superiores. A dignidade de escolher o momento, eis o que é de facto o deixar de respirar por opção)

A voz quase inaudível:

[Amo-te. Tenho medo. Tenho medo deste sentimento], ou [Agora vou para a aula], ao que te respondi que iria também, sabendo ambos que nem a distância física consegue separar duas almas que se entregaram.

O ouvir ainda os passos que se apressam pisando apenas o vácuo palmilhando distâncias, cumprindo amores, na invisibilidade do finito envolto em denso nevoeiro.

Água que mergulha em água, penetrando-se mutuamente no encontro pós-queda do abismo, misturando fluidos, libertando energia, saboreando o momento único da fusão.


Analiticamente.

Analogamente também elas libertam sinergias isótopas num aparente contraditório disfuncional.
[Como se a razão que nos quiseram impor seja capaz de se sobrepor aos afectos. Nego a razão]

A união pelo éter, pela limpidez de águas transparentes, marcada pela sobreposição de vozes calmas e intranquilas a um tempo, a desaparição nesse mesmo éter numerado que se liga e desliga como se fosse castigo, é recompensada com afectos que ultrapassam a compreensão.

[Do ontem sobram as palavras gravadas num espaço temporal que é sempre possível revistar nos momentos angustiantes da aparente desaparição. O desnudar-te é apenas consequência deste sentir que está além das palavras].

4 Comentários:

Às 01 dezembro, 2005 05:00 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Zé

"Viajei" nas tuas palavras - Na beleza dos sentimentos com que escreves.

Um beijo

Um bom feriado :)

 
Às 01 dezembro, 2005 13:43 , Blogger Amita disse...

Sempre belo o teu trabalhar as palavras. Um bom feriado e um bjo

 
Às 01 dezembro, 2005 16:40 , Blogger Su disse...

é sempre com prazer q te leio
gosto das palavras transformadas em sentires
jocas maradas

 
Às 03 dezembro, 2005 19:45 , Anonymous Anónimo disse...

[O desnudar-te é apenas consequência deste sentir que está além das palavras]
rrssssss sentir fingido

 

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