O PORTO: O MORRO E O RIO - 11º EPISÓDIO: CALE
Perpena, general Romano de Sertório - a quem assassinaria uns anos mais tarde - terá ocupado Cale em 74 antes de Cristo. Não devia ter sido feito militar de grande monta, nem pela importância do povoado, nem pelas implicações da conquista - e, assim, o mais natural seria dar-se ao acontecimento a importância reduzida que teve naquela época. É o que faz Salústio, historiador, falecido 40 anos depois, com uma brevíssima referência a este sucesso - e mesmo assim foi preciso esperar quatro séculos, mais ano menos ano, para se saber o que ele disse ( 1 ).
É a primeira vez que se ouve falar de Cale, mas só essa vez chegou para muita tinta fazer correr sobre o significado da palavra e a sua localização.
Por azar nosso, dos historiadores e do próprio Salústio, Cale vem situada na Gália - e por lá teria ficado se um notável Holandês, Gerard Voss (1577-1649) não procurasse demonstrar que se havia tratado de um lapso e que onde está Gália se devia ler Calécia.
De facto, as incursões militares de Perpena decorreram pelo Noroeste Peninsular (levaram-no até ao Rio Lima) pelo que a correcção de Voss, com tantos séculos de atraso, foi aceite pela generalidade dos historiadores.
Temos assim Cale situado na Calécia, o que a coloca a Norte do Douro, dado o rio fazer fronteira com a Lusitânia Romana.
Azar dos que defendiam Cale em V.N. de Gaia.
Um abraço para a Galiza, herdeira da Calécia, por ter acolhido o topónimo Cale, de um minúsculo povoado junto ao seu limite sul, para com ele formar o seu próprio nome.
Por muito inacreditável que pareça, esta foi a base para o baptismo de toda a faixa ocidental da Península.
É a primeira vez que se ouve falar de Cale, mas só essa vez chegou para muita tinta fazer correr sobre o significado da palavra e a sua localização.
Por azar nosso, dos historiadores e do próprio Salústio, Cale vem situada na Gália - e por lá teria ficado se um notável Holandês, Gerard Voss (1577-1649) não procurasse demonstrar que se havia tratado de um lapso e que onde está Gália se devia ler Calécia.
De facto, as incursões militares de Perpena decorreram pelo Noroeste Peninsular (levaram-no até ao Rio Lima) pelo que a correcção de Voss, com tantos séculos de atraso, foi aceite pela generalidade dos historiadores.
Temos assim Cale situado na Calécia, o que a coloca a Norte do Douro, dado o rio fazer fronteira com a Lusitânia Romana.
Azar dos que defendiam Cale em V.N. de Gaia.
Um abraço para a Galiza, herdeira da Calécia, por ter acolhido o topónimo Cale, de um minúsculo povoado junto ao seu limite sul, para com ele formar o seu próprio nome.
Por muito inacreditável que pareça, esta foi a base para o baptismo de toda a faixa ocidental da Península.
O itinerário de Antonino, finais do século III, é um documento de compilação das vias romanas. Grandes Romanos! Deixaram pontes, estradas, legislação, costumes, uma língua para nos entendermos...Abençoada ocupação.
E é aqui que voltamos a ter notícias: na via Olissipo – Bracara Augusta, uma espécie de IP1 daquela época, numa extensão total de 244 milhas, Calem vem mencionada como a penúltima das suas estações. A análise das distâncias entre estas permite situá-la na vizinhança do Douro.
Para alguns, a Cale do Perpena nada tem a ver com a Calem de Antonino; para a maior parte, todavia, estabeleceu-se um certo acordo: trata-se de uma povoação pré-romana, de nome celta (Kal = pedra, rochedo, como hipótese mais aceite) situada a norte do morro de Pena Ventosa. Mais concretamente: entre os locais onde hoje se situam a estação de S. Bento e a Sé.
Dúvida parece não haver quanto à localização do porto fluvial que servia Cale.
Quando voltar à Praça da Ribeira – porque você já lá foi - repare na Rua de S. João, a que vem a descer, do seu lado esquerdo. Sim, você está de costas para o Rio.
Pense que por ali corria o tão falado Rio de Vila, prestes a encontrar o Rio Douro, pouco mais ou menos no sítio onde você está. Esse ponto de encontro, possivelmente, reunia condições mais favoráveis à acostagem de embarcações, já que as margens de granito das redondezas não deviam ser muito fofas para a manobra.
Repare agora na estreitíssima Rua dos Mercadores, a do seu lado direito, por onde dantes a Via Romana retomava o seu caminho na direcção de Bracara Augusta. Não tinha muito espaço para se alargar: de um lado, o morro; do outro o Rio de Vila; subia por ali, chegava à Rua Escura de hoje (ainda não havia Cerca Velha) e virava a Norte, passando pela estação de Calem.
Pois foi aí, onde você está, que tudo começou. O Portus (romano) de Cale (celta) deu origem a Portucale e o resto já se sabe. Por isso, esta história é também a sua história, a que não vai ficar indiferente.
(1) - Citação do gramático Sérvio, séc. IV, inserida num comentário sobre Virgílio.
No próximo Episódio (o penúltimo), vamos sair de Cale em direcção ao Rio.
(continua)
(Fernando Novais Paiva)
Etiquetas: O Morro e o Rio
5 Comentários:
este blog é melhor que ir à escola, sempre se aprende algo de novo:) ehehe
por acaso estou a escrever um artigo sobre Lagos, a ver se o tenho pronto ainda hoje à noite:)
Beijinho
Lúcia*
P.S. Peter, para quando uma visita aqui? Quero convidar te para um copo :)
Aqui tenho a oportunidade de conhecer e descobrir. Isso é importante. Obrigada pela oportunidade!
Bom fim de semana!
Bjs
Peter:
Mais um artigo em que muito aprendi.
Bonitas as fotos.
Beijos
Olá, Peter!
E assim se desfez (será que definitivamente?) o mito de que Cale era Gaia.
Mas assim até é mais giro porque o Porto não tem de partilhar a origem do nome de Portugal com os da margem esquerda.
Muito interessante...
Abraço
Mais uma demostração da antiquissima ligação entre a Galiza (Cale) e Portugal (Portu Cale). É fascinante. Obrigado pela explicação...
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