terça-feira, setembro 6

Das insanidades.

O silêncio apenas é quebrado pelo meu próprio mutismo.Apenas um ligeiro sussurro da minha respiração vai quebrando encantos e lembrando-me que ainda estou vivo.
Não sei se me ouço, ou se sou uma holografia de mim. As holografias não respiram. Movo-me e apenas a sombra se move, num arremedo de contorções.
Não se me cola. Dispersa-se. A luz acaba por dar-lhe vida própria. Aquele sou eu sem ser.
Esta reflexão deixa-me preocupado. Divido-me. Sou sem ser e não sou, sendo. Estranhos os meandros da mente!
Posso projectar-me. Isso dá-me uma dimensão de Deus! – Sou Deus!Ubíquo já o sabia. Mas Deus?!
Parto-me, reparto-me, partilho-me, multiplico-me, crio imagens de mim mesmo que projecto. Nem o Deus conseguiu fazer isto, porque ainda ninguém o viu. Moisés dizia que sim, rezam as crónicas. Mas como posso ter tanta certeza se todos eles consumiam haxixe libanês?
Sinto no rosto os fiapos de prata. Contornam-no. Acariciam-no. Beijam-me os lábios, onde todas lágrimas morrem.
Vazio de tudo e cheio de nada. Eis como me sinto. Deus e ao mesmo tempo impotente para deter demências. Que não as minhas. Eu sou insano assumido. Mas não provoco guerras. Mas assumo a impotência de as evitar.
Todavia é sobre os “sanos” que os holofotes incidem. A eles as honrarias. A nós, o esquecimento.
O vermelho vivo dos teus lábios fascina-me. Vou tocar-lhes com os meus. Sem conspurcações. Límpidos.Como os verdes/azuis olhos.
Continuo a ouvir o meu próprio mutismo, que não quebra silêncios. Apenas respirações.A noite sempre longa acarinha-me, aconchega-me na sua escuridão que o não é. É alva a noite. Límpida. Livre. À noite tudo é permitido. Até ser Deus.



In “Pisar o risco”

4 Comentários:

Às 06 setembro, 2005 08:43 , Blogger Elipse disse...

Basta pisar o risco para se estar acima do que é comum. Mas o desassossego não nos deixa fruir...

 
Às 06 setembro, 2005 11:42 , Blogger Peter disse...

Zé,não tenho tempo agora de ler o teu post.
Lê o meu comentário de hoje que coloquei no teu post anterior.
Abraço.

 
Às 06 setembro, 2005 13:59 , Blogger Marta disse...

Deixo-te um beijo.

 
Às 07 setembro, 2005 15:12 , Blogger Peter disse...

"A noite sempre longa acarinha-me, aconchega-me na sua escuridão que o não é. É alva a noite. Límpida. Livre. À noite tudo é permitido. Até ser Deus."
Gostei do final.

 

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