Os portugueses esquecem.
Manuel Alegre foi grande. Manuel Alegre foi sobretudo nobre.
Por momentos fez-nos esquecer a maioria dos maus políticos que temos.
Frontal, cortante, audaz, contundente, mas sobretudo, lúcido.
Esta lucidez de que mais uma vez deu provas e que o tem atirado para o baú do esquecimento do aparelho partidário. É Socialista, é Republicano, mas não é de todo uma marioneta comandada por invisíveis cordelinhos. Assumiu a sua condição de homem livre. Vive. Logo pensa! O constatar desta verdade fá-lo e faz-nos entender a vida como uma sucessão de ideais clarividentes, transparentes, mas sempre, sempre em busca da verdade.
Talvez a sua condição de homem de letras lhe dê uma outra perspectiva. Admito até que viva de alguma forma num mundo de utopias. Porém “sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança”.
Poucas vezes na minha condição de jornalista me devo ter deixado arrebatar por um discurso. Talvez porque a maior parte deles fazem parte de uma encenação preparada ao pormenor, com a finalidade de nos enganar a todos.
Manuel poderá ter perdido a oportunidade de se candidatar a Belém. Poderá ter perdido o amigo de muitas batalhas.
Mas é certo que ganhou novos amigos que se revêem naquele homem de aparência humilde e ar inteligente.
Alegre, o poeta já há muito me fazia sonhar.
Alegre o político já há muito ganhou a minha admiração, pelas posições de frontalidade, de discordância de linhas traçadas pelo partido que ajudou a fundar.
Portugal e os portugueses devem-lhe a voz livre que chegava da Argélia, via rádio clandestina. Portugal deve-lhe a divulgação de grandes músicos, de grandes homens e mulheres de artes que se sabiam livres e queriam os todos os outros, livres.
Portugal deve-lhe a esperança do fim do tenebroso regime que nos governou durante quase cinco décadas.
Mas os portugueses esquecem.
Após trinta anos de democracia, os políticos foram capazes de produzir apenas dois homens “presidenciáveis”.
Triste constatação esta! Teremos de escolher entre dois homens – certamente que incontornáveis na solidificação da democracia – que já tiveram o seu momento e o seu tempo.
De repente este cenário faz-me lembrar Macondo e a família Buendía: perdidos num tempo e espaço imutáveis.
Olhei Alegre nos olhos enquanto discursava. Li neles a desilusão, a tristeza de quem se sabe traído pelos seus. Mas li também a esperança que certamente ficou na mente de muitos os que o ouviram.
Num país em que nada do que parece é, Manuel foi verdadeiro, igual a ele próprio.
Neste canto da Europa pintado a negro e cinza, Manuel brilhou.
3 Comentários:
Um grande vira-casacas esse Manuel Alegre. Melhor que o bochechas mas vira-casacas.
Zé concordo totalmente contigo! Como tu dizes, talvez a sua condição de homem de letras lhe dê outra perspectiva. talvez viva num mundo de utopias. Mas foi e é verdadeiro.E livre. O contrário da maioria dos políticos!
Deixo-te um beijo.
Certo.
Um homem vertical e que merece respeito. Por mais que me expliquem não entendo esta jogada da entrada do Mário Soares a não ser por um ódio miudinho do Sócrates ao seu ex-adversário, o que só lhe fica mal.
( não percebo onde é que quer chegar a pessoa que lhe chama vira-casacas; onde ? quando ? como ? com quem ? )
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