quarta-feira, junho 29

Dualidade


[Do tumular silêncio retiro a holografia projectada à distância; entre nebulosas de tons cinza a luz que brilha mostrando epiderme macia e promessas].


A ponta de dedos queimados na infusão do contacto guardando memórias que se libertam sob a forma de chamas elevando-se além horizonte até ao ponto de partida da projecção.

Nesse pequeno ponto que marca a diferença, a realidade de um corpo palpável que após percorrer distâncias tremendas se transforma em algo intocável.
A dualidade real/imaginário a tomar conta de uma noite de insónia.
Ou pesadelo.

O percorrer com olhos objecto de adoração antevendo no vórtice triangular a sagração de todas as emoções. O mergulho entre-pernas, dando e recebendo em entregas plenas de incondicionalidades, o desabrochar dos sentidos perdidos e encontrados em projecções holográficas, razões de todos os sonhos.

Mergulhar na noite mergulhando entre coxas entreabertas, labiares escorrendo desejos sob a forma de salivares. O surgir do alheamento já que todos os sentidos se juntaram apenas na comunhão de corpos, almas e sentires.

[Dedos percorrendo teclado em busca da emoção negada pela ausência] em colossal frenesim na busca infrutífera da palpação.

Nos dedos o fogo imenso da lembrança de pele macia.
No âmago o vazio da não-presença.

Noite longa.

O projectar do desejo em linha recta conduz invariavelmente ao leito que ainda não comungámos.

Ou pesadelo.

Noite longa. A noite mais longa.

O imaginar-te desnudada em leito de menina soçobra no tremendo tesão da posse que irá acontecer.

Ofertar-me-ei.
Ofertar-te-ás.

Simbioses catalíticas.
Agora a descrença.

[Ou os longos cabelos marcados por olhos imensos que inebriam, embriagam. Do desejo falar-se-á amanhã]

Noite longa.





In "Pisar o risco"

14 Comentários:

Às 29 junho, 2005 11:40 , Blogger Peter disse...

Mails extraviados, dificuldades com o "servidor". tudo valeu a pena para termos de novo a escrita satírica, ou sensual, do nosso colaborador desde os primeiros tempos do blog que, como todos sabem, foi iniciado pelo Peter, o Letras ao Acaso e a Bluegift./// Parece que o blog ficou mais humano.

 
Às 29 junho, 2005 12:29 , Anonymous Anónimo disse...

já andava com saudades de te ler...beijinhos querido zé
gisele

 
Às 29 junho, 2005 13:04 , Blogger Ana disse...

Ainda bem que voltaste.
Um beijo.

 
Às 29 junho, 2005 20:48 , Anonymous Anónimo disse...

Dos textos mais belos que já te li...
... relembrando a dor das ausências, dos silêncios, das palavras caladas... e o fogo dos desejos sempre tão vivos.

Escrita de excelência.

P.S.: Ainda bem que o jornal não te tira tudo ;)

 
Às 29 junho, 2005 22:17 , Anonymous Anónimo disse...

Fico contente que tenhas voltado.
Ler-te é um prazer enorme

 
Às 29 junho, 2005 22:19 , Anonymous Anónimo disse...

sem dúvida que o A. lázaro tem razão. que escrita de excelência.

 
Às 29 junho, 2005 22:20 , Anonymous Anónimo disse...

Belissima esta escrita

 
Às 29 junho, 2005 22:22 , Anonymous Anónimo disse...

Já te tinha lido no letras. ninguém fica indiferente á tua escrita. é muito bela

 
Às 29 junho, 2005 22:33 , Anonymous Anónimo disse...

sensual, emotivo e muitissimo bem escrito

 
Às 29 junho, 2005 22:34 , Anonymous Anónimo disse...

Tens um dom. Não o desperdices. Já publicaste?

 
Às 29 junho, 2005 22:34 , Anonymous Anónimo disse...

letras
a tua volta é pra lá de prazerosa
adorei, belíssimo como sempre
todos os beijos
juliana

 
Às 29 junho, 2005 22:35 , Anonymous Anónimo disse...

Hum! Posso imaginar um homem romântico que sabe transcrever as emoções. Belissimo este pequeno grande texto

 
Às 29 junho, 2005 22:40 , Anonymous Anónimo disse...

Ai ai ai .. que delícia a sua volta, senti muito a falta de tuas palavras doces.
beijinhos
Daniela.

 
Às 29 junho, 2005 22:44 , Anonymous Anónimo disse...

Como ficar sem teus textos???... sua volta nos faz delirar..
um grande beijo.
saudades
Luiza.

 

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