Algumas Reflexões Sobre a Mulher
Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.
O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
(Eugénio de Andrade)
4 Comentários:
Se a compreendessemos, perdia todo o seu mistéro e esse é um dos seus maiores atractivos.
"m myers", vou incluir o teu blog nos n/links, se não te importas. Por outro lado, a visita que te fiz, permitiu-me obter o endereço do blog de alguém que tive o prazer de conhecer pessoalmente, vai fazer 5 anos. Claro que também irei incluir esse blog nos links.
Elas apenas são o que nos faz mover... são tudo!
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
e por isto que o geninho nunca há-de ter morrido: mora naquele lugar onde *os pássaros quando morrem* moram.
beijinho peter pan, meu amigo
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