segunda-feira, junho 27

Algumas Reflexões Sobre a Mulher

Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.

Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.

Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.

Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.

Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.

O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.

Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.

Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.

É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.

São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.

Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.

(Eugénio de Andrade)

4 Comentários:

Às 27 junho, 2005 14:50 , Blogger Peter disse...

Se a compreendessemos, perdia todo o seu mistéro e esse é um dos seus maiores atractivos.

 
Às 27 junho, 2005 14:54 , Blogger Peter disse...

"m myers", vou incluir o teu blog nos n/links, se não te importas. Por outro lado, a visita que te fiz, permitiu-me obter o endereço do blog de alguém que tive o prazer de conhecer pessoalmente, vai fazer 5 anos. Claro que também irei incluir esse blog nos links.

 
Às 27 junho, 2005 22:04 , Blogger mfc disse...

Elas apenas são o que nos faz mover... são tudo!

 
Às 28 junho, 2005 07:49 , Blogger blimunda disse...

Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.


e por isto que o geninho nunca há-de ter morrido: mora naquele lugar onde *os pássaros quando morrem* moram.

beijinho peter pan, meu amigo

 

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