Finanças
Ontem à tarde recebi uma carta das Finanças e fiquei logo a tremer, pois lembrei-me daquele sujeito que estava impedido de receber milhares de Euros de reembolso por se encontrar como devedor de 0,01 €.
Claro que dormi mal a noite, sonhando com "dízimas", judeus cobradores de impostos, sei lá, até me fui lembrar não sei porquê, do "direito de pernada" ...
Levantei-me cedo e resolvi abandonar a Tshirt e vestir casaco e gravata para ser melhor tratado. Pura ilusão. Depois de andar cerca de 1h a calcorrear Lisboa à procura da respectiva Rep lá a encontrei. Fui recebido com uma senhora que devia de sofrer de azia e que me perguntou, com a correspondente acidez:
- “ O que é que o senhor quer?”
Timidamente lá lhe disse que tinha recebido aquela carta ontem.
- “Deixe cá ver”, disse-me para logo acrescentar: “isto não é aqui”.
- “Mas foram os senhores que a mandaram.”
- “Nós? Eu não lhe mandei nada.”
Cheio de paciência, disse à senhora:
- “Está bem, não foi a senhora, foram as Finanças (entidade abstracta, que não culpabiliza nenhum dos seus”).
- “Mas isto refere-se a 2005”, disse-me ela, do alto da sua sabedoria.
- “Desculpe” disse-lhe, “mas é referente a 2004”.
- “Onde é que viu isso?”
- “Aí, no assunto”.
Relutantemente admitiu que sim, para logo voltar a acrescentar que “não era ali”.
- “Então onde é?”
-“Não sei. Olhe, vá aqui, depois ali e depois além …”
Nesta altura uma senhora que dificilmente conseguia sentar o traseiro, demasiado grande para a cadeira, disse-lhe:
- “Oh fulana, vou ali beber um café e comer uns bolinhos.”
Estava mesmo precisada, pensei eu… podia à vontade estar uma semana sem comer, que não morria. Por uma questão de estatística, tomei nota da hora de saída. Esteve ausente, exactamente 27 minutos. Produtividade …
Foi quando me “passei” e lhe disse:
-“Olhe, se julga que eu vou perder o meu tempo à procura do sítio para vos pagar, está muito enganada. Penhorem-me, levem a porcaria do carro, prendam-me, façam o que quiserem. Muito bom dia”.
-“Espere, vamos lá a ver” e começa a “debicar” no PC, resmungando: “nunca me entendi com estas modernices, o que vale é que só já faltam 3 meses para me reformar”.
- “Vê-se”, disse-lhe eu.
- “O que é que o senhor quer dizer?”
- “Que se vê que a senhora necessita mesmo dum merecido descanso.”
4 Comentários:
«Tudo com dantes, quartel general em Abrantes»!!!
Abraço amigo
Nós, os portugueses, somos mesmo assim. Não seremos todos, mas a maioria...
Ou seja, não há "direito de pernada" que nos assuste, mesmo que estivéssemos na idade média... e, por isso, marimbamo-nos para os outros e para os seus interesses.
Um abraço.
Lusitano
Nós que vamos aguentando "isto", somos tratados abaixo de cão.
VIPs, não aqueles/as que cobram para aparecer em festas, mas os que têm mesmo riqueza, têm ao seu dispor equipas de advogados, economistas e peritos em fiscalidade, do que resulta pagarem de impostos muito menos do que qq indivíduo da chamada "classe média", se, por acaso, esta ainda existe.
Nilson
"O que fomos, não existe."
Quanta verdade...
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