domingo, novembro 20

A múmia, a esfinge e os outros

Indubitavelmente o debate de pré campanha para as Presidenciais está ao rubro.

Claro que peca por ausência de debate tal como o vulgar cidadão interpreta a troca de ideias.
Mas esta é obviamente uma campanha subtil, inteligente, feita apenas para meia dúzia de entendidos.

Enquanto Soares, a múmia, percorre o país de lés-a-lés arengando estranhas línguas parecidas, é certo, com o francês e exibindo a sua linha genética que lhe permite admitir viver até aos cem anos, Cavaco, a esfinge voou para o Brasil tentando convencer os pobres portugueses que se encontram naquele país, de que é o herdeiro de D. Pedro. Alegre perde-se em estrofes e rimas, acabando mesmo por ter uma interessante discussão sobre a constituição portuguesa com Marcelo Rebelo de Sousa, a quem afirmou tratar-se [a Constituição] de uma longa estrofe com uma métrica considerável, “embora não saiba exactamente o número”.

Louçã que numa feira se julgou um ser divino [olhos nos olhos: estão hipnotizados] vai afirmando que “engolir um garfo nem é o pior. O mau é assistir a um concerto do António Vitorino de Almeida e ele acabar a fazer publicidade aos canais Lusomundo”

Jerónimo apelidou-se de herói. Sem se saber porquê, o candidato comunista acha que é o grande guerreiro com o mesmo nome “pese embora o facto de o tipo não ser Marxista. Ou era? Pelo menos combateu o imperialismo Americano, a CIA e os seus apaniguados”, embora alguém o lembrasse a propósito que a CIA ainda não existia naquele tempo. “Engano o seu. A CIA esteve sempre presente na vida dos americanos. Assim como o Al Capone”.
Não conseguimos ver a relação, mas também não aprece ser importante.

Algumas notas breves sobre os discursos dos candidatos:

“Engoli um piano. Notei que lhe faltava algumas teclas. Por isso a música é sempre a mesma”, afirmou o Professor no Rio de Janeiro.

“O que verdadeiramente me impressiona é a facilidade com que um baterista toca tanto instrumento ao mesmo tempo”, disse Francisco Louçã numa feira na Golegã.

“Stravinsky é o verdadeiro culpado do défice. Aqueles devaneios de louco conduziram o país ao caos” afirmou Jerónimo de Sousa.

“Revejo-me nas gravuras de Foz-Coa. São da idade da pedra como eu”, rematou no final de um discurso alusivo ao tema “Entrar mudo e saír calado” que ocorreu nesta conhecida localidade.

Alegre está ainda no penedo da Saudade. “Ai flores de verde pinho, se sabedes novas do meu amigo, ai ué, ai ué”. Rima, não rima?

A pobreza do debate político está patente na ausência de discurso e na grandiloquência do mesmo.

Afinal vamos votar em quem e no quê?

7 Comentários:

Às 20 novembro, 2005 21:51 , Anonymous Anónimo disse...

Pois grande questão esta que me tem deixado angustiada, que diaabo não quero pertencer ao Estado Federado Ibérico, embora o rei até tenha vivido grande parte da sua vida no Estoril!
Esta questão não é de xaxa.. e angustia! Abraço

 
Às 20 novembro, 2005 22:20 , Blogger Su disse...

já não há indignação

confirma-se portugal está doente, como se não bastasse todos os nossos candidatos estão com alzeimer, o q é triste, mas pelos vistos os pts estão "ausentes"

para a tua pergunta, decidi, vou-me candidatar, logo, vota em mim

jocas maradas

 
Às 20 novembro, 2005 22:33 , Blogger Peter disse...

Não sei porque estão preocupados?
Mário Soares já prometeu que não concorreria a um segundo mandato ...

 
Às 20 novembro, 2005 23:46 , Anonymous Anónimo disse...

A tua pergunta é mais do que pertinente e provavelmente é a dúvida que a maioria de nós tem no momento. Infelizmente e por muito que me custe dizer, acho que temos aquilo que mereçemos...
Um excelente texto.

 
Às 20 novembro, 2005 23:47 , Anonymous Anónimo disse...

errata: merecemos

 
Às 21 novembro, 2005 01:05 , Blogger Peter disse...

A minha esperança são "os outros", pode ser que se pesque lá um...
É uma vergonha, o Partido do governo não ter ninguém para propor ao País, para PR, senão um venerável cidadão de 81 anos (fá-los para o mês que vem; não se esqueçam de lhe enviar os parabéns) que ainda por cima é "repetente".
A sua campanha "beijoqueira", a mostrar que "está ali para as curvas" é estilo "Paulinho das feiras", no seu pior.

 
Às 21 novembro, 2005 04:14 , Blogger Fragmentos Betty Martins disse...



Este teu post é que está ao rubro.

Nestas presidenciais, há provavelmente mais candidatos de “esquerda” do que “esquerdas”. E as entrevistas que deram à uns dias na TVI revelaram apenas o que já se sabia: é impossível arranjar lugar (intelectual) num metropolitano tão apinhado.

Louçã quer arrasar a corrupção e a “hipocrisia”, mas isso também quer Alegre, e com melhor voz. Jerónimo de Sousa deseja o bem do “povo”, mas Soares também e com mais experiência na promessa. O ex-PR teria razão, quando diz que a “diversidade”, à esquerda, é melhor do que a “unidade”, se as famílias aqui representas fossem verdadeiramente diferentes.

Mas não são. Soares e Alegre ocupam o mesmo tapete republicano, Louçã e Jerónimo repartem o apartamento pós-comunista (na verdade, ninguém nem sequer o PCP, quer o “comunismo”) e todos depois de criticarem o “governamentalismo” de Aníbal, propõem linhas gerais do executivo ideal. Mas falta escolher. Para isso será preciso escolher?

Agora faço a mesma pergunta que tu:

Afinal vamos votar em quem e no quê?

Beijinhos

 

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