quarta-feira, dezembro 31

Fim de ano…

… Tempo de planos, esperanças e etc. …

Tempo, também de consultar oráculos.
Os signos devem dizer-nos o que não conseguimos explicar de outra forma. O que não queremos ver...

Ontem, no programa do Goucha, esteve o professor qualquer coisa (não me lembro do nome), a tentar provar que o que previu para 2009.
O pobre homem, pouco habituado às coisas da televisão, ali esteve a dizer que na América vai andar tudo à porrada e que o resto do mundo vai passar mal.
Portugal o que já sabemos dos bruxos da política...

O pior foi quando vieram as interrogações do público. Coitado. Mesmo depois de dizer que os portugueses deveriam tentar ser mais positivos, como outros povos (e deu exemplos), as perguntas foram disparadas no sentido mais pragmático e óbvio.
De referir que o público destes programas é de uma faixa etária elevada e de cultura relativamente baixa. Digo eu…

E então dispararam:
- Se o Governo vai aumentar as reformas
- Se a economia do país vai melhorar
- Olhe para mim e diga-me como vai ser a minha vida para o ano
- Se os banqueiros vão ser castigados

E um grande etc. etc.

O homem ali estava, com o seu casaco de peles, completamente à rasca.
Não deve ter sido para aquilo que o contrataram, nem para ser objecto de gozo pelos animadores do programa.

Enfim, fim de ano.
Como é óbvio, o que melhor teremos será a maneira como passarmos a noite. O melhor e mais divertida que podermos. Com passas ou sem elas, com Champagne ou espumante, com mais ou menos gente.

Quanto ao ano que vem aí, com um segundo de atraso, por causa da lentidão da Terra (Peter dá umas explicações sobre isto…) não será muito diferente daquilo que pensamos que vai ser.
Difícil.
Será menos difícil quanto maior for a nossa capacidade de adaptação e de evolução.
De colocarmos as questões que interessam, de respondermos à vida com a maior harmonia e objectividade que soubermos.

E por aqui me fico.

Deixo os desejos de uma boa passagem de ano. Cuidado com os excessos e se conduzirem não bebam muito ou deixem o carro em casa ou seja lá onde for.

E já agora:
UM BOM ANO 2009 COM TUDO A QUE TEMOS DIREITO.

terça-feira, dezembro 30

What is life?


“Life is a fascinating thing. We can all recognise it but we cannot define it. It is the most elusive natural property known to science and no definition adequately captures its essence. Moreover, you find the chemicals that make up living things in the composition of inorganic objects also. Initially, it seems obvious that all life must reproduce itself. However, this allows some inanimate objects to slip into the classification as well. Flames can reproduce, for example, otherwise it would be impossible to light candles. By taking reproduction as a definition, we must consider candles alive also. Using the reproduction property as a characteristic of life excludes some undoubtedly living creatures. For example, mules are born when a male horse mates with a female donkey. This produces a genetically distinct creature, a mule, which happens to be sterile as a species and so incapable of reproduction. By our first definition of life, therefore, we cannot classify a mule as alive. To exclude the flame as a life-form, some definitions specify that only reproducing systems capable of genetic mutation and therefore evolution are alive. However, this definition still does not include the mule.

As a final complication, there are viruses. Unlike a microbe, when a virus is isolated, it is incapable of reproducing. To behave as if it were alive, that is, to reproduce and be capable of Darwinian evolution, it must first invade a microbe and hijack its genetic copying machinery. Scientists still cannot decide whether viruses are to be considered living or not.

In the search for a definition that includes all living things but excludes all non-living things, some scientists are beginning to search beyond traditional biological thinking. According to them, the answer may lie in the mathematics of information theory and the way living things store information in their genes. Yet, it is too early to know if this definition will work any better.”

Penso (mas quem sou eu para me pronunciar sobre o assunto?) que a VIDA é a centelha que faz a transição do pré-biótico para o biótico, tal como no universo primevo uma partícula a mais (porquê?) de matéria sobre a anti-matéria, permitiu a prevalência daquela e a mim estar aqui a escrever este comentário.

segunda-feira, dezembro 29



Julgas que fizeste à Alice
Tudo o que não fizeste
Pequeno fingidor
De mundos não possíveis

O teu objectivo
Era fugir do inferno
Do reino do desejo e da atracção
Da sua enorme sedução
E só tu sabes
Se conseguiste ou não

Mas entretanto
Alice superou-te
E entre a paródia e o sonho
É ela quem subsiste
E a ti para sempre resiste


ana hatherly, A neo-Penélope

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domingo, dezembro 28


Imagem da superfície de Titã obtida pela Huygens
a 5 km de altitude, durante a sua descida,
a 14 de Janeiro de 2005.


«Em Titã, as nuvens e a chuva são formadas por metano líquido.
Na Terra o metano é um gás inflamável, mas Titã não tem oxigénio
na atmosfera para suportar a combustão. Além disso,

as temperaturas em Titã são tão baixas
que o metano pode existir
na sua forma líquida.

[ ] nuvens colossais de vapor de metano formam tempestades
na superfície de Titã, com este hidrocarboneto a desempenhar
um papel semelhante ao da água na Terra. Os cálculos
mostraram que estas tempestades fortes, que podem
chegar a uma altitude de 35 quilómetros, produzem
nuvens densas de metano e uma precipitação
intensa de gotas líquidas a partir do composto
gasoso, semelhante aos fortes aguaceiros
que vemos na Terra. Esta precipitação
gera acumulações e rios de metano
líquido em Titã, produzindo os
canais observados.

Sendo assim, Titã poderá ter um “ciclo do metano”,
talvez semelhante ao ciclo da água na Terra.»

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sábado, dezembro 27

A bandalheira

Na Escola do Cerco do Porto no último dia de aulas do primeiro período, um grupo de alunos do 11º ano apontou uma arma de plástico à professora de Psicologia, exigindo a atribuição de uma nota positiva e estando as imagens já a circular na Internet.

Como é que a professora permitiu que os alunos se levantassem dos seus lugares e a rodeassem?

É a bandalheira.

Para Margarida Moreira, directora regional de Educação do Norte (DREN) esta história não tem qualquer paralelo com o mediático caso da secundária Carolina Michaelis, também no Porto, onde em Março uma aluna agarrou e insultou a professora, depois de esta lhe ter confiscado o telemóvel. Agora desvalorizou mais este caso, considerando-o como "uma brincadeira de muito mau gosto e que excedeu os limites do bom senso. No Norte acontecem sempre coisas no último dia de aulas". Brincadeira?

Bandalheira.

A presidente do conselho executivo da escola não comunicou qualquer ocorrência ao Ministério da Educação e só decidiu abrir um inquérito disciplinar depois do assunto ter sido divulgado na comunicação social porque também considerou ter-se tratado apenas "de uma brincadeira de fim de período que mais ou menos toda a gente fez" e que seria resolvida internamente, caso não tivessem sido captadas as imagens que circulam na Internet. Talvez por estas e por outras a referida Escola do Cerco do Porto esteja classificada em penúltimo lugar.

É a bandalheira.

Manuel Valente, da Federação de Associações de Pais do Porto, afirmou que: "há culpados que têm que ser denunciados e o mais importante de todos é a administração escolar (Direcção Regional de Educação do Norte - DREN), que, sobretudo depois do caso da [Escola] Carolina Michaelis, devia ter imposto regras claras que impedissem a utilização de telemóveis durante as aulas e não o fez", disse aquele responsável. Manuel Valente defendeu que os alunos deviam ser obrigados a depositar os telemóveis - que considera como um claro factor de perturbação das aulas em todos os sentidos - no início de cada aula, recuperando-os depois, à saída para o intervalo. "Os professores, que têm também a sua parte de culpa, deveriam dar o exemplo e fazer o mesmo, desligando os seus telemóveis, ou colocando-os em modo de silêncio e abstendo-se de os usar durante as aulas", acrescentou Manuel Valente. (Jornal de Notícias de 26 DEZ 2008)

A desculpabilização dos filhos, quando deveriam era estar preocupados com o seu comportamento cívico que eles não lhes sabem dar.

“Que ninguém ouse transformar este sofrimento em simples arma de luta política, porque na batalha da Educação os únicos vencedores têm de ser os vossos filhos, e para estes esta batalha não é político-sindical, é a batalha da vida que eles só vencerão com a generosidade, a competência e a coragem de todos nós”

São palavras da mensagem de Natal do Cardeal Patriarca. Não há aqui nada de ser crente, ou deixar de ser crente. Há é bom senso e um apelo à responsabilização, que é algo que há muito anda afastada entre nós e infelizmente não é só no Ensino.

quarta-feira, dezembro 24

Os putos…

E eis que é chegado o dia que antecede a noite mais esperada. Pelos miúdos, sobretudo.
Uma noite que foi inventada porque há 2 mil anos nasceu um outro puto, dizem que no meio do frio e pobrezinho, entre a vaquinha e o burrico, este, porventura, o transporte de luxo (?) da época. Talvez adquirido a prestações, ou talvez com o rendimento de carpinteiro do Sr. José.

Entre nós, este ano é marcado também pelo quase final do processo Casa Pia. O tal que vai condenar, ou não, um grupo de gente que, alegadamente, terá praticado inúmeras barbaridades com miúdos. Uns mais miúdos que outros mas que se viram privados, prematuramente, da inocência.
E perder a inocência não é nada pacífico. Quanto mais assim.
S
obre a culpa ou não de todas aquelas pessoas, doentes, pervertidas, diabólicas, irá pronunciar-se um juiz, quando se confrontar com os argumentos dos advogados e do Ministério Público.
Momento solene.
No entanto, o que me leva a escrever sobre este assunto não é o desenlace desta peça.

Há dias Catalina Pestana (por quem não nutro grande simpatia, admito, nem sei bem porquê, ou nem interessa isso agora…) dizia em entrevista que é perverso que estas pessoas, conhecidas e que se notabilizaram também pelas inúmeras acções humanitárias, e outras, “…estarem envolvidas nestes crimes hediondos…”.
E esta é uma questão que me atormenta. E muito.

Há dias estava a ver o programa na TV com o Malato, homem de educação religiosa e das mais rigorosas, e que me parece ser uma muito boa pessoa. Não sei porquê. Aquele indivíduo, que apresenta o programa de um modo engraçadíssimo, tem um jeito em tudo o que faz que parece transbordar afectos.
E, de repente, qual flash, dei comigo a pensar que aquela pessoa um dia destes pode vir a ser acusada de um crime qualquer. Deste género ou doutro.

E dei comigo a pensar nas pessoas com quem nos cruzamos, nos nossos amigos, com as pessoas da nossa família, que pensamos conhecer e que, afinal, se podem revelar perversos e pervertidos.
Aliás, eu próprio posso sê-lo, pensarão. Afinal quem é este Ant desconhecido que publica uns textos de vez em quando?
A moral da história é que me custa admitir que algumas personalidades envolvidas possam estar envolvidas nestes actos sórdidos.
E porquê? Porque, em tempos, também foram pessoas de bem. Também as admirámos.
Será a verdade alguma vez verdadeiramente descoberta?

Já foram condenados à pena capital inocentes e libertados verdadeiros criminosos.
Seja qual for o desfecho, nunca mais poderemos ser os mesmos. Nem aqueles que neste processo estão envolvidos. Todos já estão condenados por quase todos nós.

Os miúdos, esses, já o não são há muito tempo. Esperemos que possam esperar e desejar justiça e não uma resolução atabalhoada que apenas sirva para fechar o assunto.

Um Bom e Santo Natal para todos nós.

Das boas entradas tratamos para a semana.

terça-feira, dezembro 23

AS CRIANÇAS



De súbito,
parece que cresceram.
Descobrem o que é o amor
e transformam-se em adultos.
Mão na mão vagueiam,
Sem repararem nas multidões
à sua volta,
silhuetas desenhadas ao pôr-do-sol.

Seus corações são como
pássaros cativos dentro deles,
e no pulsar de cada batimento
está o pulsar de toda a humanidade.

Silenciosas, sentam-se juntas
na margem de um rio
junto de uma árvore solitária, ao luar.
A bruma não levantou,
a terra é um sussurro.

Como papagaios de papel, os seus corações
planam, acima das cabeças.
Apesar de ter sido sempre assim,
será que mudará quando por fim
seguirem o seu caminho?

Há outra forma de ver isto:
Um vaso cheio de luz é derramado
sobre uma flor,
revelando subitamente em cada um de nós
uma dimensão inesperada.

O que começou dentro de ti,
destruí-lo-ás um dia?
Ou vais guardá-lo ciosamente dentro de ti,
sabendo sempre distinguir o certo do errado?

(Tradução portuguesa do poema “As Crianças”, escrito pelo Papa João Paulo II)

segunda-feira, dezembro 22

Apelo de Natal

"Apesar do desenvolvimento económico mundial, a maior parte da população não vê qualquer melhoria nas suas vidas.
A par do desemprego aberto significativo, há muita gente subempregada ou que não é paga pelo trabalho executado. Metade dos trabalhadores no mundo ganha menos de 2 dólares por dia, 12,3 milhões de mulheres e homens trabalham em regime de escravidão, 200 milhões de crianças com menos de 15 anos trabalham em vez de irem à escola, 2,2 milhões de pessoas morrem anualmente devido a acidentes e doenças relacionados com o trabalho. Tanto nos países desenvolvidos, como nos países em vias de desenvolvimento, as pessoas trabalham mais por menos dinheiro e há cada vez mais pessoas – cuja esmagadora maioria são mulheres – forçadas a viverem na chamada economia informal, sem protecção social nem direitos e com empregos precários. Entretanto, as empresas utilizam a ameaça da externalização para reduzir os salários, e o “jogo de forças” pelos direitos, como o direito à negociação colectiva e à greve. Os sindicalistas que combatem estas tendências são despedidos, ameaçados, presos e mesmo mortos.

Só um sistema internacional baseado na solidariedade e no respeito pelos direitos das pessoas, como o prevêem as convenções das Nações Unidas e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pode pôr termo a estas tendências. Apelamos aos nossos governos que assinem estas convenções, as implementem urgentemente e coloquem o trabalho decente no centro das suas decisões políticas."

( http://umjardimnodeserto.nireblog.com )


Quadro de Melyta

Não sei se este pensamento elucida o dia, se a noite.
Veio às cinco da manhã, e às dezoito do mesmo dia.
Aqui o deixo__________________________ a ilha é

Um lugar onde o mar ruge por todos os lados. Quando
O vento a submerge, batem nas rochas e nas escarpas
Peixes, assinalados por terem morrido em vão.

Maria Gabriela Llansol, O começo de um livro é precioso
Assírio & Alvim, Lisboa, 2003, p.196

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domingo, dezembro 21


«Quebrei os meus compromissos por causa do amigo;
seria capaz de quebrar a amizade por causa do amor.»


(Hölderlin)

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sábado, dezembro 20

O maior fracasso da democracia portuguesa

“Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.
Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao processo Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.
Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças.
Habituámo-nos a prescindir de saber a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história, ou sabê-lo muitos anos depois, são coisas normais em Portugal. E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas.
Apesar dos jornais e das televisões, dos blogues, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada e esperando, com toda a naturalidade, nunca vir a saber.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos os casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.
Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.
Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.”

(É uma adaptação de um artigo muito mais extenso e julgo que com outro título, publicado no “Expresso” por Clara Ferreira Alves. Procurei tratar do assunto em termos gerais, que julgo serem do interesse comum e que são do conhecimento público, evitando especificar ou citar nomes, porque sim … ninguém é culpado, somos todos culpados.)

sexta-feira, dezembro 19

100.000


Esta série do “conversasdexaxa”, a nº4, iniciou-se no dia 10 JUN 2005 na sequência de anomalias verificadas na série anterior, a nº3, o que nos levou a abandonar o servidor SAPO e a optar pelo BLOGGER. Pois a actual série 4 completou esta semana o “número mágico” de 100.000 visitantes.
E chamo-lhe “mágico” por ser um número que eu idealizara alcançar. Claro que um “amigo” disse-me logo que, na realidade, o blogue não teria tido esse número de pessoas a visitá-lo porquanto a mesma pessoa podia aceder várias vezes ao blogue e de cada vez contava como sendo um novo visitante. É uma verdade, não precisava era ser “desagradável”. Mas enfim, como costuma dizer-se: “os cães ladram e a caravana passa”.

O blogue é um trabalho colectivo, mas sem desprimor para com o “ANT” e o “vbm”, pretendo salientar a colaboração da “bluegift” que nos tem acompanhado desde o início. Companheiros dos fóruns do SAPO juntamente com o “vbm”, este resistiu um pouco ao aparecimento dos “blogues”, continuando pelos fóruns, enquanto eu iniciava a minha actividade “bloguista” com o “Poeira de estrelas”, que ainda durou uns tempos, altura em que com a “bluegift”, a “Lótus” que era a poetiza e também a técnica que elaborou o primeiro “template”, o jornalista “Letras ao acaso” e a brasileira “embaixatriz do Brasil”, também poetiza, iniciámos a série “conversasdexaxa”.

Verificaram-se entradas e saídas e a “bluegift” foi continuando. A sua ida para o estrangeiro e o correspondente aumento de trabalho, tornaram impossível a sua colaboração literária, tomando a seu cargo o aspecto gráfico, os “templates”, a música, slides e vídeos e a coluna da direita, onde criou debates sobre o referendo ao aborto e o Tratado de Lisboa, bem como uma coluna sobre Fernando Pessoa. Portanto uma colaboração inestimável, a que há que acrescentar a rápida solução de problemas técnicos, dando solução aos SOS que lhe enviava.

O nosso agradecimento a todos os que nos têm visitado, comentado e incentivado, tornando assim possível o “número mágico”.

quinta-feira, dezembro 18

Dordio Gomes


Quis o acaso que pessoa amiga viesse a ter como vizinho o arquitecto Dordio Gomes, filho do pintor meu conterrâneo e que eu, na minha infância, ainda conheci pessoalmente. Conversa puxa conversa esse meu amigo veio a saber dessa coincidência e eu prometi-lhe publicar no blogue um artigo sobre o pai do vizinho. Promessa cumprida e como estamos a uma semana do Natal, será assim como uma espécie de prenda no sapatinho do arquitecto.

”O pintor Simão Dordio Gomes nasceu em Arraiolos (Alto Alentejo) em 1890 e matriculou-se no curso de Pintura Histórica da Escola de Belas - Artes de Lisboa em 1902. Nas suas primeiras obras é nítida a influência do pintor Columbano, o que levou os seus primeiros críticos a considerá-lo aluno deste grande mestre. Em 1910 concorreu a uma bolsa de estudos no estrangeiro, conquistando a primeira classificação e em Dezembro desse ano partia para Paris. A bolsa concedida foi porém suspensa por motivos estranhos à actividade artística do pintor e só voltou a ser-lhe dada em 1921. Em todo este longo período o artista viveu na sua terra natal, e aí, só, sem qualquer estímulo, realizou as suas primeiras obras: quadros de feição regionalista, que se encontram hoje, na sua maioria, em vários museus portugueses.
A segunda permanência em Paris durou de 1921 a 1926. Com o regresso a Portugal em 1926, recomeça uma nova fase da sua pintura, e durante quatro anos trabalha na decoração do salão nobre dos Paços do Concelho da sua terra, para o qual realiza, pelo processo do óleo sobre tela, onze painéis, ainda de assuntos regionalistas, mas já com grande violência de cor, a que não é estranha a influência de Cezanne.
Em 1933 concorreu à vaga de professor de Pintura na Escola de Belas - Artes do Porto, cargo de que tomou posse em Março de 1934.” (in Dordio Gomes: Estudo de Manuel MendesLisboa, 1958, adaptado).

Meu conterrâneo, ainda o conheci assim como a mulher e o filho, pois a sua família era visita de casa da minha mãe. O artista foi homenageado “post mortem” com uma estátua em bronze no jardim municipal e o salão nobre da Câmara tem, como já vimos, as paredes cobertas por painéis seus, de que destaco o relativo à romaria da Senhora da Agonia, capelinha situada nos arredores, numa tapada onde cresciam veados e que tinha lugar na 2ª F de Páscoa.


A aguarela que aqui reproduzo é de 1927, intitula-se “Noite de S.João” e ilustra uma tradição de cunho popular, em que as crianças eram mergulhadas na fonte em primeiro plano, chamada “Fontainhas”. Ao fundo, por detrás dos edifícios com barras azuis, está pintado o castelo bem como parte da vila que lhe dá acesso e onde se vêem dois edifícios pertencentes à família do pintor e que na realidade se encontram por detrás de nós. A fonte também não se situa naquele local, que é o largo principal da vila, o da Câmara Municipal. O pelourinho e os edifícios com barras azuis permanecem inalterados e bem posicionados, assim como o edifício alto à direita.
Podemos apreciar alguns óleos seus no Museu de Arte Contemporânea da Gulbenkian.

quarta-feira, dezembro 17

Felizes natais…

O Peter, administrador deste blogue em conjunto com a Bluegift (não esquecer o trabalho de ornamentação fotográfica e sonora deste espaço), que é um rapaz simpatiquíssimo, decidiu não me mandar dar um curva, apesar da minha pouca participação com textos. Decidiu, isso sim, e com a conivência dos outros colaboradores, deixar as quartas-feiras para eu me explanar à vontade.
Por isso, caro público, seja lá em que género for as quartas são minhas, nem que seja pelo silêncio.

Para iniciar esta nova fase havia uma série de assuntos que poderia e gostaria de abordar. Professores… ando em análise do assunto e aquilo não é nada pacífico. Ler leis e depoimentos não é suficiente. Muita matéria…
A crise e as aldrabices… inútil. Todos os dias uma nova…
Casa Pia, Futebol, eleições… ná…

Decidi-me pelo Natal. Não, não é uma resenha histórica nem uma discussão sobre a quadra mais popular da nossa civilização.
É que, por um motivo qualquer, não há ano em que não fique com a depressão pré natalícia.
Não sei se existe um estudo sobre o assunto mas, de facto, a coisa não acontece só comigo. Somos tantos que deveria haver um dia da depressão do Natal que desse apoio psicológico a todos os que padecem desta maleita.

Acredito que este sentimento absurdo, numa quadra que deveria ser de paz e harmonia, se deve a outras depressões, outras circunstâncias que, agora, ganham maior peso.

Vejamos: o Natal é a festa da família. Qual família? Hoje as famílias têm outros estatutos, outras cambiantes.
Seria bonito e interessante, sem dúvida, unir na mesma mesa todos os ex e seus novos parceiros, com todos os filhos dos novos progenitores. Que grande festa… Mas que raio, se são ex é por algum motivo e penso que nestes casos não há amor paternal ou filial que aguente a pressão.
Há anos foi feito um estudo no Reino Unido que concluiu que a taxa de divórcio aumentava a seguir ao Natal. Os motivos? A grande pressão de aturar durante uma noite inteira gente para a qual não há pachorra.

Festa da família… pois… mas com prendas, muitas prendas daquelas que aparecem na TV ou então é a desilusão completa.
O Natal, e não é novidade, à semelhança de outras datas, é mais um negócio, uma forma de nos mostrarmos, de nos mascararmos e provarmos à família que somos boas pessoas e que gostamos muito de toda a gente.

O Natal, na minha opinião, que vale o que vale, tem um pressuposto espiritual profundo. Mais que o nascimento de um puto à 2000 anos (se foi a 25 de Dezembro ou 13 de Janeiro ou Março pouco importa), há que ter em conta o fantástico contributo que Ele veio a dar mais tarde para o conhecimento da Vida e de uma outra visão da Felicidade.
Jesus é, acredito eu, o veículo que transporta para uma nova dimensão, um outro estado de consciência.
Fácil? Não. De todo. Ser cristão é das coisas mais difíceis de se ser.
Por isso, quando nos vejo numa correria frenética de loja em loja, entendo que nos perdemos no acessório, esquecendo o que de facto é essencial.

Para todos um bom Natal.

terça-feira, dezembro 16

BOAS FESTAS

(Foto Peter)

Para todos os que nos visitam, um feliz Natal na companhia dos que vos são queridos e um Ano Novo com a realização dos vossos desejos, são os votos da equipa do blogue, que espera continuar a contar com a vossa presença em 2009.

segunda-feira, dezembro 15

Noites de Goa


O que tem de diferente, relativamente à totalidade dos livros de divulgação científica, a obra de João Magueijo: “Mais rápido que a luz”? É ser “a biografia de uma especulação científica”, que é também um Diário do autor. Um livro profundamente humano e em que o seu autor tal como eu, “alentejano de gema”, não se parece nada com o retrato que habitualmente fazemos de um cientista. Não é caras leitoras? É um “gatão” …

Atente-se ao final do livro:

“Somos nós – os que amamos o desconhecido para lá de todas as modas políticas ou imposições partidárias – que usufruímos do último e glorioso riso. Gostamos mais do nosso trabalho do que é possível exprimir em palavras. No universo ninguém se diverte mais do que nós.”

Ou no final dos “agradecimentos” da praxe:

“O autor gostaria de agradecer aos candidatos a inquisidores dos dias de hoje por já não brincarem com fogo.”

Para justificar o que venho dizendo, destaco ainda um pequeno texto do capítulo em epígrafe, o qual mereceu a minha preferência:

“ ... enquanto montanhas de papel ... se acumulavam sobre as nossas secretárias, caindo às vezes misteriosamente no caixote do lixo, continuávamos a interrogar-nos sobre a VSL, [variable speed of light, ou “very silly” (disparate), segundo os seus críticos] sentindo-nos frequentemente algo perdidos.

Em Abril a necessidade de espairecer tornou-se de tal forma esmagadora que resolvi pôr tudo de parte por algum tempo e desaparecer de Londres com Kim (a namorada). Escolhemos ir a Goa ... As raves (movidas a “ecstasy”) na praia duravam até ao nascer do Sol ... Os “hippies “ (que viviam nus nas árvores) tocavam flautas a cães furiosos que corriam pelos bares e restaurantes a ladrar e a morder-se uns aos outros ...
Embora este ambiente não parecesse particularmente conducente ao exercício de actividades intelectuais, devo dizer que o meu cérebro funcionou lá melhor do que nunca. Ao descontrair-me ocorreram-me de súbito algumas das grandes ideias da VSL. Claro que só tomei breves apontamentos: as noites de Goa não se prestam a cálculos complicados. Mas lentamente iam-se materializando umas quantas ideias interessantes. (...) Quando, a meio da noite, ia à casa de banho de Deus – a única que existe na maior parte dos bares de Goa – olhava acidentalmente para o céu entre as palmeiras. Com pouca ou nenhuma luz eléctrica a polui-los, os céus de Goa eram povoados pela infinidade das estrelas. Concordo que contemplar o universo enquanto se mija não será das coisas mais poéticas, mas sentir o peso do universo diante dos meus olhos produzia sempre em mim um choque forte. Num sistema sonoro, lá muito ao longe, ouvia-se:

“Quando se sonha não há regras, tudo pode acontecer, as pessoas podem voar”

domingo, dezembro 14


Marx e o sistema bancário!


«A hipotética redução de complexidade através da máquina social capitalista,
que sempre representou mais ideologia que realidade,
finalmente se transforma em destruição.


Também por essa razão, o salto é tão grande e rodeado de temores.
Mas as relações de crise, que se tornaram reconhecíveis
através de sua contínua evolução,
reclamam implacavelmente:

ali onde havia inconsciência social (desde a "invisible hand" do culto
aos ancestrais até à "invisible hand" do mercado capitalista mundial),
deverá surgir consciência social. No lugar de um meio cego
deverá surgir um processo decisório social consciente,
organizado por instituições autodeterminadas
(não estabelecidas a priori),
para além de mercado
e Estado.»


Robert Kurz, "As leituras de Marx no Século XXI"

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sábado, dezembro 13

O homem do barrete vermelho


Estava encostado á parede e deveria ter cerca de 40 anos, um pouco menos, um pouco mais. De barrete vermelho, uma parka amarela com capuz azul, cachecol verde e mochila laranja, tez morena meio envelhecida.
Sentou-se no chão, pôs aos seus pés a mochila sebenta e ao seu lado um pequeno recipiente de plástico com água e um papel, que servia de mesa a um cão que dormitava indiferente a tudo e todos.
O homem fumava um cigarro com filtro e estendia a mão, onde jaziam algumas moedas de cêntimos.
Dantes eu diria que "tilintavam", agora nem isso fazem. Tinha sido o último dia para trocar as antigas notas de 20 escudos no Banco de Portugal. Mas quem é que se mexia, com esse calor, para trocar uma bonita nota por 10 cêntimos? Eu não, prefiro ficar com a nota, ao menos serve-me como marcador de livros.

Entre nós, a rua por onde desfilavam mulheres jovens, cada vez mais bonitas, com decotes generosos e seios espantosos. A minha companhia disse-me que as mulheres andavam em feroz competição. Os homens escasseiam e elas têm que enfrentar uma concorrência cada vez maior. Enquanto trocávamos impressões, dois jovens nitidamente "gays" sentavam-se numa mesa ao lado.
- "Vês o que te disse"? Disse-me ela. "Olha o rapaz de azul, um autêntico desperdício."
Tive de concordar.
"Por isso, elas têm de exibir os seus dotes. É a concorrência, uma concorrência feroz.", continuava ela.
"Bem, é assunto que não me preocupa, não me afecta", respondi afagando-lhe o braço.
"Também não é preciso estares a olhar."
"Não posso estar aqui de olhos fechados, como te poderia ver?"
"Desculpas, já te conheço."

Ao nosso lado, três francesas de exportação, daquelas para quem não valia sequer a pena olhar. Às tantas, uma delas, já "entradota", levantou-se e foi dar umas moedas e um bolo ao homem do barrete vermelho. Este mirou as moedas com ar de desprezo, meteu-as no bolso e deitou o bolo para o papel que servia de prato ao cão, o qual continuou a dormir, ou a fingir que o fazia.
Tirou do mesmo bolso uma lata de cerveja, de que beberricou um pouco, enquanto passava um negro a quem julgo que pediu um cigarro, mas este nem se dignou olhar para ele.
Iniciou depois uma operação: cortou com um canivete parte do filtro dum cigarro, retirou-lhe o papel branco que o envolvia e voltou a meter nele o interior do filtro.

As miúdas continuavam a passar…

O homem resolveu comer metade do bolo do cão, que não protestou, preferiu continuar a dormitar. Depois comeu a outra metade, apanhou o recipiente de plástico, despejou a água, parte para cima do cão, pegou na mochila e foi-se embora.
Já quase ao virar da esquina o cão resolveu levantar-se e, com o rabo entre as pernas, seguiu o rasto do homem.
Deve ter pensado, se por acaso os cães pensam: "mais vale este que nenhum".

(Foto GOOGLE - img.olhares.com/data/big/104/1046636.jpg)

sexta-feira, dezembro 12

Vida extraterrestre?


Uma molécula de um tipo de açúcar existente na Terra foi observada por astrónomos do University College de Londres, numa região situada a 26 mil anos-luz do nosso planeta.
A notícia pode ser particularmente interessante para todos os cientistas que procuram vida extraterrestre, já que a molécula em questão teve um papel decisivo na origem da vida na Terra.

(in SOL de 06DEZ2008)

George Steiner (VII)

Conclusão da entrevista feita por Clara Ferreira Alves (CFA)

CFA - Havia uma tradição de grandes mulheres escritoras com consciência e que sofreram demasiado por causa disso. A Akhmatova, por exemplo. Já não me importava de ter uma nova Virginia Woolf.
GS - Acho a Margaret Atwood uma escritora poderosa, não desses génios, mas poderosa. Existe um enorme vácuo. Um vácuo onde não se ouve a voz das mulheres.
CFA - Mas existe a «shopping novel». Sabe o que é? «Shop until you drop».
GS - Não torne as coisas piores.
CFA - Existe um poema da Akhmatova em que ela diz que só o sangue cheira como o sangue. Como é o cheiro da tortura?
GS - É diferente, diferente do cheiro do soldado que chega da batalha.
CFA - Conseguiria descrever esse cheiro?
GS - Acho que sim, é como couro morno. Talvez por influência de um cheiro que nunca esqueci, o cheiro quente da máscara de clorofórmio da operação à garganta na minha infância.

“George Steiner dispensa apresentações. É um dos grandes humanistas europeus contemporâneos. Um verdadeiro “cartógrafo” da cultura europeia, que sabe como poucos, à maneira dos antigos, recebê-la, contextualizá-la, dar-lhe um sentido e, sobretudo, reinterpretá-la numa lógica de esperança possível. Se a Europa, e o Mundo, caíram e parecem ciclicamente cair no obscurantismo ou na “inumanidade”, a possibilidade de olhar em frente foi a única opção, pois “abrir portas é o trágico preço da nossa identidade”, para utilizar uma expressão do próprio George Steiner.”
(Emílio Rui Vilar, Fundação Calouste Gulbenkian e gradiva, “A Ciência terá limites? – Conferência coordenada por George Steiner”)

quinta-feira, dezembro 11

George Steiner (VI)

Continuação da entrevista feita por Clara Ferreira Alves (CFA)

CFA - É o mesmo que quando diz que temos Maradona a correr com a bola e dois milhões de pessoas a olhar para ele ao mesmo tempo.
GS - Agora, temos os olhos neste Mundial.
CFA - Onde estava no 11 de Setembro?
GS - A fazer alpinismo.
CFA - Ainda faz alpinismo?
GS - Subo colinas, ando em vez de escalar. Nas colinas. Tenho 73 anos.
CFA - Ainda joga xadrez?
GS - Mais do que nunca.
CFA - E ainda ouve música.
GS - Mais do que nunca.
CFA - À parte ler e escrever, retira da vida muito prazer.
GS - Quando me levanto de manhã, digo «obrigado». Há duas espécies de seres humanos, os que dizem «obrigado» e os que dizem «que se dane». Eu sou dos primeiros, os que dizem «obrigado», sempre fui. Lembro-me que sobrevivi com a minha família em 1940, por milagre, fomos levados para segurança por milagre. Tive uma vida muito gratificante. Tinha esperanças de ser um grande escritor, que não sou, esperava ser um artista, não sou, tinha esperanças de ter sido. Não fui. Mas tive dois ou três momentos na vida em que levei a carta, fui o «postino», e fiz uma grande diferença. Lembro-me do dia em que disse ao «Times Literary Supplement» que ia escrever um grande artigo sobre um escritor e eles me perguntaram como é que se escreve Celan, Paul Celan? C, E, L, A, N? Foi o primeiro artigo sobre ele em inglês e fiquei muito feliz de o fazer. E fiz isso por um certo número de grandes escritores, levei a carta para o marco do correio certo. Isto foi um grande privilégio, que é o do grande executante de música. Sem os que a tocam, não teríamos a grande música que foi composta.
CFA - O que é para si um grande escritor?
GS - O que se sabe a partir da primeira frase do livro. O verdadeiro criticismo é uma dívida de amor, o contrário da desconstrução, do pós-modernismo. Essa primeira sentença é o programa da minha vida.
CFA - Ainda temos esses grande escritores de que fala? Os maiores? O Broch, Proust, Joyce, Musil, Mann? Ou acabaram com o século XX?
GS - Ainda temos gigantes. É difícil julgar a contemporaneidade. Soljenitsine foi um gigante em dois ou três livros e foi um homem muito perigoso noutros. E ainda existem grandes poetas. Borges ainda está aqui. Não concebo um mundo sem Borges. Mas gostaria de voltar a falar das mulheres. Porque é que as mulheres continuam a ter filhos se sabem que eles morrerão na guerra e no massacre? Em muitas partes do mundo, deviam dizer não ao homem. Eu não quero ter um filho que será morto no Kosovo, no Ruanda. É uma questão de Aristófanes na peça «Lisístrata», quando as mulheres dizem «não, nós paramos a guerra por deixarmos de fabricar soldados». É uma das cenas. Se eu fosse um grande escritor dizia-lhe que romance gostaria de escrever. Um homem num regime despótico, qualquer regime despótico, com polícia secreta. Esse homem chega a casa ao fim da tarde vindo do trabalho. A mulher consegue cheirar o seu trabalho. Eu sei que isso é verdade. A tortura deixa um cheiro. Se um homem tortura, ele cheira, mesmo que se lave. Esse homem chega a casa com o seu cheiro e vai para a cama com a mulher. Como é que ela consegue? Como é que ela consegue? Gostaria de começar um romance aqui, e esse romance precisaria de um grande escritor. O número de mulheres que vivem com homens que estão a fazer coisas bestiais, já reparou? Esta entrevista está muito negra, demasiado negra. Vamos por um momento para um registo mais leve. Na cidade de Londres, agora, existem homens de negócios que eu conheço que fecham indústrias que deixam no desemprego mais de cinco mil pessoas. De um dia para o outro, atenção! E recebem em troca um milhão, dois milhões, chama-se a isso «share options», «golden handshake». Será que as mulheres deles, quando eles entram pela porta dentro, lhes dizem «Seu porco»? «Filho da mãe»? E se não o dizem, porque não?
CFA - Talvez porque estão demasiado entretidas a gastar os proveitos desse horror numa loja Gucci?
GS - Você ainda é mais cínica do que eu. Mas vê a minha questão. Elas não gritam, não protestam. Não dizem «Como é que você pode?»
CFA - As mulheres endureceram, tiveram de endurecer. Ficaram duras.
GS - Ou indiferentes.
CFA - Ou corruptas.
GS - Ou corruptas.

(continua)

quarta-feira, dezembro 10

George Steiner (V)

Continuação da entrevista feita por Clara Ferreira Alves (CFA)

CFA - Sempre defendeu o velho criticismo, o criticismo clássico, que não se coloca à frente da literatura nem pretende descodificá-la.
GS - Todo o criticismo é secundário. Walter Benjamin disse que algures numa biblioteca existe um livro que ninguém tirou da prateleira e leu, e pode esperar outros duzentos anos até que alguém o descubra e leia. E nesse dia o livro poderá mudar a literatura. O livro pode esperar duzentos anos. Quando morreu, Kakfa tinha publicado duas ou três historietas e três ou quatro esboços, hoje existem 114 línguas que têm Kafka como adjectivo, incluindo o japonês.
CFA - Você também já é um adjectivo.
GS - Não posso falar disso. Mas pense nos que escrevem e que caminham para o silêncio e a derrota sem se saber, até que um dia alguém pega no livro e ele começa a arder. E não se pode fazer isso com televisão, com filmes...
CFA - Ou com o que está dentro ou é criado por um computador.
GS - Nunca! Pode fazer-se isto com uma pintura, uma composição musical, um edifício...
CFA - Já que falamos de televisão, a CNN dava notícia há pouco tempo da necessidade de legislar no caso de crianças virtuais, imagens computorizadas de crianças, para efeitos pornográficos. Será a criação desta pornografia infantil um crime, mesmo sem existência de corpos reais? Este tema não lhe será estranho porque já no seu livro In Bluebeard’s Castle antecipava estes problemas.
GS - Números publicados pela Scotland Yard: o dinheiro ganho na pornografia é, neste momento, superior ao dinheiro ganho nas drogas. Pornografia é número um. Teremos crianças virtuais, coprofilia virtual, sadismo virtual. Estamos muito doentes.
CFA - A morte do humano, uma humanidade moribunda?
GS - Isso foi Auschwitz, peço perdão, isso aconteceu em Auschwitz. Estamos a viver postumamente. Em todas as vidas existe um dia que muda todas as coisas. Você ainda é demasiado jovem mas esse dia há-de chegar. Para mim, chegou quando eu percebi que o sr. Pol Pot no Camboja tinha enterrado vivos cem mil homens, mulheres e crianças. Eu aceito que sobre Auschwitz muito pouca gente sabia, embora Elie Wiesel diga que se sabia, mas eu acho que muito poucos sabiam. As notícias sobre Pol Pot estavam em todas as televisões, chamavam-se os «killing fields». E nada fizemos!
CFA - Também nada fizemos no Ruanda.
GS - Nada fizemos, e vendemos mais armas ao Khmer Rouge. Os franceses e os britânicos continuaram, e eu investiguei isto, a vender armas. Para mim, este foi o ponto em que, ao olhar-me de manhã ao espelho, disse para mim mesmo: não estou realmente a olhar para um ser humano. Eu nada fiz. Não gritei, não saltei do telhado, não corri para o Camboja.
CFA - Uma ausência de Deus na nossa civilização.
GS - Isso foi há muito tempo. Há uma ausência do Homem, o que é muito sério.
CFA - E no entanto nunca tivemos tantas tribos lutando em nome de Deus, reclamando um Deus único e verdadeiro. O fundamentalismo religioso, e não falo apenas do islâmico, argumenta com armas e com guerra a favor da presença de Deus.
GS - Não conheço a resposta, mas lutar em nome de Deus, em vez de lutar em nome da Ford Motor Company, ou da Vodafone, ou da Shell Oil, não sei o que é pior. Tenho pena, mas talvez haja mais dignidade em lutar em nome de Deus.
CFA - Crê que os israelitas, com esta operação de Ariel Sharon contra os palestinianos, perderam a autoridade moral que tinham? Talvez pela primeira vez?
GS - Israel decerto perdeu o respeito por si próprio. O que o torna muito perigoso. Quando se perde o respeito por si próprio é um grande perigo. A coisa extraordinária é que existe um número de pessoas muito corajosas, escritores como Amos Elon, Amos Oz, que ainda dizem corajosamente: Não! Com grande risco, grande risco.
CFA - Amos Elon é muito lúcido, perfeitamente lúcido num dilema sem lucidez. Mas estes novos barbarismos, estes Bin Laden, onde os arrumamos?
GS - Sempre tivemos barbarismos, os vândalos e os hunos nunca foram embora. Átila matou um milhão de pessoas quando invadiu. A diferença é que agora a televisão, os «media», dão-nos conta disso imediatamente. Tornou-se realidade virtual, e habituámo-nos completamente a isso, não chegamos a acreditar na realidade, ela transformou-se na pornografia do inevitável.

(continua)

terça-feira, dezembro 9

Tens máscaras?

Veste la giuba



ITALIANO

Recitar!
Mentre preso dal delirio,
non so più quel che dico,e quel che faccio!
Eppur è d'uopo, sforzati!
Bah! sei tu forse un uom?
Tu se' Pagliaccio!
Vesti la giubba, e la faccia in farina.
La gente paga, e rider vuole qua.
E se Arlecchin t'invola Colombina,
ridi, Pagliaccio, e ognun applaudirà!
Tramuta in lazzi lo spasmo ed il pianto;
in una smorfia il singhiozzo il dolor,
Ah!Ridi, Pagliaccio, sul tuo amore infranto!
Ridi del duol, che t'avvelena il cor!

INGLÊS
To recite!
While taken with delirium,
I no longer know what it is that I say,
or what it is that I am doing!
And yet it is necessary, force yourself!
Bah! Can't you be a man?
You are "Pagliaccio"
Put on the costume,and the face in white powder.
The people pay, and laugh when they please.
and if Harlequin invites away Colombina laugh,
Pagliaccio, and everyone will applaud!
Change into laughs the spasms of pain;
into a grimace the tears of pain,
Ah!Laugh, Pagliaccio, for your love is broken!
Laugh of the pain, that poisons your heart!

Lamentável…

Não é minha maneira de ser enfeitar-me com penas de pavão, ou pretender aparentar aquilo que não sou. Manifestei o meu apreço pelo seu blogue, tenho-o nos meus links, vou continuar a tê-lo e a lê-lo.
Tudo o que sei sobre os assuntos que trata no seu blogue tem sido adquirido por leituras, ou pesquisas no Google, como é o caso do texto que lá deixei, pois não tenho estudos universitários nesse âmbito.

Lamentável é que certos blogues fiquem ofendidos por opiniões divergentes, em vez das discutirem.
Posto isto, passo a transcrever o texto em questão, fruto das minhas pesquisas no Google:

“ Mather e Smoot, Prémio Nobel da Física 2006 pelas suas contribuições para o esclarecimento da natureza e das anisotropias da radiação cósmica de fundo (RCF) que banha o universo, trabalharam juntos na construção e no lançamento em 1989 do satélite da NASA Cosmic Background Explorer (COBE) destinado a observar os sinais residuais do Big Ban. Em Abril de 1992 anunciaram a detecção dos mais antigos vestígios do calor residual dessa explosão e, além disso, a descoberta que iludiu os cientistas durante décadas, a existência de variações de temperatura da RCF, relíquias fósseis da explosão primordial que deu origem ao universo, e indicativas das suas primeiras estruturas. Segundo George Smoot: “essas medidas vieram confirmar a nossa representação do Big Bang. Ao estudar as flutuações da RCF de micro-ondas, encontrámos o instrumento que nos permitiu explorar o universo primordial, ver como evoluiu e de que é feito. Estas pequenas variações são registos de pequeníssimas deformações no tecido do espaço-tempo originadas pela explosão primordial. Foram produzidas no momento em que o universo que hoje vemos era tão pequeno que não havia espaço suficiente para um único protão. Durante milhares de milhões de anos, a gravidade ampliou essas deformações dando origem às galáxias, enxames de galáxias, e a grandes espaços vazios.”

“ As medidas iniciais de temperatura da RCF obtidas por Penzias e Wilson, quando acidentalmente a descobriram em 1965, indicavam que a temperatura era independente da direcção, isto é, que a radiação era isotrópica, com uma precisão de cerca de 10%. Medidas mais precisas revelaram posteriormente que numa dada direcção a temperatura era cerca de 0,001 K mais elevada num dos sentidos relativamente ao sentido oposto. É o que se chama anisotropia dipolar e é interpretada como sendo devida ao movimento da Terra através da RCF. Foi então que em 1992, as equipas do COBE encontraram anisotropias (da ordem de um para 100 000) para separações angulares muito menores (para ângulos da ordem de 7º). Estas pequenas flutuações de temperatura estão directamente relacionadas com variações da densidade de energia, as quais estão na origem dos processos de formação de estrutura no universo primitivo.

Antes destas descobertas pensava-se que o Big Bang não era capaz de explicar a formação de galáxias e enxames de galáxias pois previa um universo espacialmente homogéneo e isotrópico. Mas o mais surpreendente é que o nível de anisotropia encontrado pelo COBE é precisamente o indicado para que essas estruturas se possam formar. Se tivesse sido encontrado um nível de flutuações correspondentes a uma parte em 200 000, por exemplo, então as galáxias não encontrariam as sementes de condensação necessárias para a sua formação.

Smoot recorda que quando começou a sua carreira, a cosmologia não era considerada por muitos físicos como uma verdadeira ciência, mas como uma área marginal, muito especulativa. Hoje, na sequência destas descobertas em que Mather e Smoot estiveram envolvidos, a cosmologia é considerada uma ciência de precisão, capaz de testar os vários modelos teóricos que vão sendo propostos. E o modelo padrão da cosmologia, o Big Bang, é hoje uma teoria bem fundamentada sobre a origem do universo.”

Paulo Crawford
Departamento de Física da FCUL

(texto do GOGLE)

George Steiner (IV)

Continuação da entrevista feita por Clara Ferreira Alves (CFA)

CFA - E África, o continente que está a morrer?
GS - Não podemos fazer muito. Com o dinheiro que lhes damos eles compram armas, e os maiores criminosos de guerra desde Hitler são os vendedores de armas, os países que as vendem. A sida é incontrolável. Para variar, o Nobel premiou um grande escritor, o sr. Naipaul, que disse a verdade sobre África e foi odiado por isso. Nem nos nossos países ocidentais conseguimos resolver o problema dos imigrantes, de que precisamos desesperadamente e que mantemos de fora. Eu sou um judeu, sei o que significa fugir. Estamos numa situação esquizofrénica. Grandes crises esperam a Europa.
CFA - A falência do modelo marxista contribuiu para isso?
GS - A América Latina está, de certo modo, no início de um novo marxismo. Na Argentina, os armazéns têm mais carne que qualquer outro país no mundo e as pessoas estão a passar fome. Foi o que Marx previu. O capítulo não fechou, por causa da exploração dos pobres. O México, que eu adoro, tem tanta pobreza, tanto desespero, tanta criança a definhar e morrer. E os outros, a Venezuela, por aí fora.
CFA - O castrismo falhou. Esteve quase lá.
GS - Cuba criou um sistema de saúde e de educação que são a inveja dos outros países da região, mas a um preço terrível, censura, estupidez. Por outro lado, o sr. Bush prossegue a sua política idiota contra Cuba porque o seu irmão precisa dos votos dos exilados cubanos em Miami.
CFA - Os políticos de hoje, os senhores do mundo, não leram livros, são incultos. Churchill, de Gaulle, Mitterrand e outros, liam livros.
GS - Willy Brandt... homens de Estado com grande cultura. Todos mortos, e alguns foram assassinados. Se Rabin e Sadat fossem vivos... dois homens com visão de paz assassinados pelo seu povo. Estamos a falar de coisas sérias, e quem me dera que grandes escritores nos ajudassem mais. Mas Clinton lia muito, e sabia do que falava. Sei-o por experiência própria, ele discutiu comigo taco a taco, sem hesitações, depois de um jantar para o qual me convidou. Uma inteligência portentosa.
CFA - É um dos últimos sábios herdeiros da grande tradição europeia, um pensador, um professor, um crítico e um escritor. É um espécime raro pela lucidez e a humanidade. Como é que carrega este manto?
GS - Sou acima de tudo um professor. Sou um professor de professores. Tenho estudantes que agora são professores por esse mundo fora. Tenho uma família de estudantes que são a melhor família que se pode ter. Tenho muitos livros traduzidos em muitas línguas e tenho muita sorte, não me esqueço disso.
CFA - Voltará a haver, entre eles, um novo George Steiner?
GS - Comecemos por ter certezas sobre o velho George Steiner. Pushkin, que era um aristocrata, um príncipe, disse muito «obrigado aos meus tradutores, aos professores que falam sobre mim. Eles levam as cartas, são o ‘postino’, o carteiro, eu escrevo-as». E eu toda a minha vida soube desta diferença. Quando me levanto de manhã digo para mim, Pushkin escreve a carta e eu tenho muita sorte em levá-la ao destino. É uma maravilhosa profissão e uma maravilhosa vocação.
CFA - E a sua ficção, não a reconhece?
GS - Deus sabe que não me compete a mim julgá-la.
CFA - Não seria demasiado severo para consigo mesmo?
GS - Eu sei onde está a verdadeira grandeza, sei onde está o festim em que se sacrifica o chibo, mas outros julgarão isso.
CFA - Existe grandeza na grande inteligência e na humanidade dessa inteligência.
GS - O mundo universitário está doente, doente com convencimento e vaidade. Qual é a minha querela com o homem de génio — e Derrida é um homem de génio e eu não sou — qual é a minha querela? A palavra dele: pré-texto. Nenhum texto é, para mim, pré-texto. O senhor Cervantes, e Shakespeare, e Góngora, não precisam do pobre e pequeno senhor Steiner, ele é que precisa deles, terrivelmente. Por isso, quando o «monsieur» Derrida usa a palavra pré-texto, dizendo que qualquer obra de literatura está à espera de ser desconstruída, eu respondo, o diabo é que está. É um desacordo muito fundo, e é um desacordo moral.

(continua)

segunda-feira, dezembro 8

George Steiner (III)

Continuação da entrevista feita por Clara Ferreira Alves (CFA)

CFA - Quais são os quartos por abrir no novo Castelo de Barba Azul? Onde estão os novos horrores?
GS - No dia em que o controlo deixar de ser não apenas o do gosto e passar a ser político. Agora, podíamos estar noutro lugar que não Lisboa. Podia ser Chicago, Filadélfia... este hotel é totalmente americano. O aeroporto? Totalmente americano. Não se sabe onde se chega, se se tapar os olhos e os desvendar não se sabe onde se está. O planeta torna-se uniforme. Três quintos do planeta falam anglo-americano. Só a língua espanhola resiste, por causa da estatística demográfica e da América Latina. A China não exporta a língua, nunca o fez e nunca o quis. O jornal «Le Monde», o mais arrogante, chauvinista e «distingué», agora tem aos sábados artigos do «The New York Times» em inglês. Porque tem de subsistir. O perigo é a estandardização da vida.
CFA - É a marca do século XX?
GS - Parece que sim. Mas há oposições. André Malraux, um homem inteligente, disse há muito tempo que o século XXII seria o da grande guerra contra o Islão. Grandes guerras religiosas vão mudar muita coisa. Sem o Apocalipse parece que o supermercado será o templo do Homem. Pense nas centenas de milhões de pessoas que nunca tiveram um luxo, boa comida, viagens. Existe uma pequeníssima elite privilegiada à qual pertenço que tem viajado, ficado nestes hotéis, e existem os outros, os que eu vejo agora no aeroporto de Londres e que nunca saíram da Inglaterra e que de repente descobriram a luz do sol. As classes baixas não sabiam que se podia estar quente numa praia até aparecer o pacote turístico. Saint-Just já tinha dito, antes de morrer na guilhotina, a felicidade é uma ideia nova na Europa. Qual o preço da alta cultura? Tem sido esse o meu trabalho nos últimos 50 anos.
CFA - Existe uma consciência europeia? Ou morreu, como morreu uma ideia da Europa como Mitteleuropa — antes da construção artificial do Mercado Comum — após a II Guerra Mundial?
GS - Morreu na II Guerra Mundial e morreu no Kosovo. Não existe consciência europeia. E ninguém na Europa compreende o desprezo americano pela Europa. Há pouco tempo dei na América as Harvard Lectures e, lá, as pessoas são educadas até tomarem dois «whiskies». A seguir dizem a verdade: «Se nem conseguiram tomar conta do Kosovo vão para o inferno! A Europa e os vossos ódios não nos interessam.» A matança no País Basco, na Irlanda. 50 anos depois de Auschwitz, os massacres nos Balcãs.
CFA - Em Bruxelas estão muito contentes por já não existirem guerras na Europa.
GS - São uma anedota, completamente corruptos, funcionários de terceira. Tive o privilégio de ensinar nas melhores universidades, tive estudantes que vão para os «media», lei, economia. Não tive um único bom estudante que se tornasse alguém em Bruxelas. É um fedor de corrupção e mediocridade. Gandhi, quando lhe perguntaram se não achava importante a civilização europeia, disse «foi uma ideia maravilhosa».
CFA - A Europa transportou-se para a América após a guerra. O espírito da Europa apanhou o barco e atravessou o Atlântico. Creio que também já escreveu isso nalgum lado.
GS - Talvez a grande cidade europeia seja Nova Iorque, com 20 línguas e 10 grandes universidades. Talvez a energia e o génio venham daí. Mas, 50 anos depois dos nazis, que tenhamos movimentos neofascistas activos na Europa... é incrível. Talvez estejamos demasiado cansados, tivemos demasiada história.
CFA - Somos demasiado velhos.
GS - Não sabemos se a noção de idade se aplica a um colectivo. Na fisiologia dizem-nos que os músculos ficam rígidos e quando isso acontece lançam ácido no sangue, envenenam o sangue. Talvez. Ou talvez as mulheres comecem a mudar as coisas na Europa. Quem senão elas? E começam a ter finalmente carreiras importantes. Tivemos Mrs. Thatcher, que foi o político mais poderoso em Inglaterra desde o tempo de Isabel I.
CFA - Ela foi acusada de se comportar como um homem.
GS - Disparate total.
CFA - Concorda com o anti-europeísmo dela?
GS - A Inglaterra foi salva diversas vezes por 20 milhas de água. Não o esqueçamos. Uma tradição parlamentar, e de «common law», e de polícias que não estão armados. E porque o deveriam estar? Não precisamos dos polícias armados da França, dos tribunais de Bruxelas ou do Banco Central Alemão, salvo seja. O problema da Inglaterra foi o de aprender a tornar-se pequena depois de ter sido grande. É preciso sorte e sensatez. Portugal teve o mesmo problema. Era preciso ter um Nelson Mandela como primeiro-ministro.

(continua)

domingo, dezembro 7

Não só a Amália Rodrigues!
Chavela Vargas - Paloma Negra

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sábado, dezembro 6

Matemática de mendigo

Tenho que dar os meus parabéns a esse estagiário que elaborou esta pesquisa tão perfeita, pois o resultado que ele conseguiu obter é a mais pura realidade.

Preste atenção nesta interessante pesquisa de um estagiário de Matemática :

Um sinal de trânsito muda de estado em média a cada 30 segundos (trinta segundos no vermelho e trinta no verde). Então, a cada minuto um mendigo tem 30 segundos para facturar pelo menos € 0,10 o que numa hora dará 60 x 0,10 = € 6,00.
Se ele trabalhar 8 horas por dia, 25 dias por mês, num mês terá facturado: 25 x 8 x 6 = € 1.200,00. Será que isso é uma conta maluca?

Bom, 6 euros por hora é uma conta bastante razoável para quem está no sinal, uma vez que, quem doa nunca dá somente 10 cêntimos e sim 20, 50 e às vezes até 1,00.
Mas tudo bem, se ele facturar a metade: € 3,00 por hora terá € 600,00no final do mês, que é o salário de um estagiário com carga de 35 horas semanais ou 7 horas por dia.

Ainda assim, quando ele consegue uma moeda de € 1,00 (o que não é raro) ele pode descansar tranquilo debaixo de uma árvore por mais 9 mudanças do sinal de trânsito, sem nenhum chefe para lhe 'encher o saco'por causa disto.

Mas considerando que é apenas teoria, vamos ao mundo real.

De posse destes dados fui entrevistar uma mulher que pede esmola e que sempre vejo trocar os seus “rendimentos” na padaria da esquina. Então perguntei-lhe quanto ela “facturava” por dia. Imagine o que ela respondeu?
É isso mesmo, de 35 a 40 euros em média o que dá (25 dias por mês) x35 = 875 ou 25 x 40 = 1000, então na média € 937,50 e ela disse que não mendiga 8 horas por dia.

Moral da História :

É melhor ser mendigo do que estagiário (e muito menos PROFESSOR ) e pelo visto, ser estagiário e professor, é pior que ser Mendigo...

Esforce-se como mendigo e ganhe mais do que um estagiário ou um professor.

Estude a vida toda e peça esmola; é mais fácil e melhor que arranjar emprego.

Lembre-se : mendigo não paga 1/3 do que ganha para sustentar o Governo. Viva a Matemática!
Que país é este? Possivelmente será o Brasil, pois o e-mail veio de lá …

George Steiner (II)

Continuação da entrevista feita por Clara Ferreira Alves (CFA)

“CFA - Poria Martin Amis nesse grupo?
GS - Não. Martin Amis trouxe à prosa inglesa uma certa energia americana. «Money» é um livro brilhante. Mas são paródias da América, não se comparam com a inteligência política de Philip Roth, com o interesse de Saul Bellow na ciência. Existem alguns escritores de valor, claro. O que eu queria dizer, e estava a exagerar, é que numa prateleira de livros escritos hoje, os vinte melhores, onde o estilo é mais poderoso, são de História. Grande período para a História, a Biografia, e alguns grandes textos filosóficos.
CFA - Existem grandes filósofos?
GS - Sem dúvida, se se quiser saber o que se passa na cultura ocidental os nomes são os de Foucault, Barthes, Lacan, Derrida, que não escrevem romances, escrevem formas mais complicadas. O romance tornou-se uma palavra alemã muito feia «Unterhaltungsliteratur», literatura de entretenimento. Quando se está cansado à noite, pega-se num romance — e não devia ser assim.
CFA - Ficção «light».
GS - Exactamente. Amanhã pode aparecer um novo Dostoievsky. Afinal, Vargas Llosa acaba de escrever um grande romance «A Festa do Chibo». É um grande romance de ficção política, como o «Nostromo» de Conrad. E Llosa não é um escritor regular, tem altos e baixos e não tem uma obra no sentido clássico, como Proust ou Joyce, mas este livro é magnífico. Cada vez mais a escrita mais perfeita, a mais criativa e inventiva, está em formas não ficcionais. Existe grande escrita de ciência. Hawking e o Big Bang, James Watson e a Double Helix, poderia dar-lhe dez títulos.
CFA - E o português António Damásio, no cérebro.
GS - Certamente. Eles escrevem com um sentido da excitação do mundo. A maioria dos romances tornam o mundo mais entediante do que ele é.
CFA - Mas existe nessas escritas um desejo de ficção, de agarrar a escrita da ciência com os instrumentos da ficção. E muitos deles gostariam de escrever ficção.
GS - E conseguiram? Não. Espero que não vejam nisso uma forma de descontracção, escrever romances não é isso, cuidado! Mas podem vir a existir outras formas.
CFA - O que fez a televisão aos escritores e aos leitores?
GS - Já o disse várias vezes, Shakespeare hoje estaria a escrever para televisão. E fá-lo-ia magnificamente. As energias do dramático, do imediato, estão na televisão, mas é uma forma completamente efémera. Eu posso ler um grande romance 20 vezes e é sempre novo. Um soneto de Góngora duas mil vezes. Veja os grandes filmes que foram feitos, «Une Partie de Campagne», de Renoir, «Les Enfants du Paradis», um ou dois Orson Welles. À quinta vez estão mortos. Não sabemos porquê. Em televisão é mais rápido, passados uns tempos está tudo morto. Resiste apenas pela nossa memória do acontecimento. Nenhuma outra forma linguística é a sua própria obsolescência. Até as grandes formas pictóricas mediáticas se tornam obsoletas.
CFA - Podemos falar da morte da arte?
GS - Não, estamos num grande período para a pintura, a arquitectura. Vou a Bilbao dentro de uns meses. A arte está muito viva. Não a confundam com os «media». Como disse Leopardi, a moda é a mãe da morte. E os «media» vivem pela moda. Mas há grandes talentos aí no meio. A maioria dos dramaturgos tem de escrever para televisão.
CFA - Para sobreviverem.
GS - E para chegarem às pessoas. Às audiências.
CFA - O que é uma audiência, por comparação com um público, com leitores?
GS - Posso responder. Lembra-se quando Karl Marx disse que a quantidade salta para a qualidade? Claro que sim. Pensamos que quando Jesus foi crucificado estavam umas 12 pessoas a olhar. Sabemos que na estreia do «Hamlet» estavam 800, sabemos a capacidade do Teatro Globe. Para a «Missa Solemnis» de Beethoven, 600 ou 700. No dia do Mundial, em 1986, quando a Argentina ganhou, eram mais de dois milhões a assistir. Quando Maradona acelerou para a bola, estavam a bater os corações de mais de dois milhões de pessoas. Não sabemos lidar com isto sociologicamente. Nem compreendemos.
CFA - É a física quântica da sociologia.
GS - É. Inimaginável. Os seres humanos estão a ter as mesmas emoções, riso, lágrimas, através do planeta. Uma criança chinesa está tão excitada como uma criança na Lapónia, ou um esquimó. É uma forma assustadora de controle planetário. Rupert Murdock é dono de três quintos da informação do planeta. Estes são assuntos que nos deviam ocupar como ocuparam Huxley ou Orwell.”

(continua)

sexta-feira, dezembro 5

George Steiner


George Steiner é um dos expoentes máximos da grande Cultura Europeia. Nascido em Paris, judeu, escapou por um triz ao Holocausto por causa de um pai que emigrou a tempo. Educou-se na França, nos Estados Unidos e na Inglaterra, as suas pátrias e as suas línguas ao serviço de uma inteligência ambiciosa e de uma memória que se recusa a esquecer a dimensão moral da escrita e da vida. Aquando da sua recomendação para Norton Professor (um dos leitorados mais ilustres dos EUA), o júri de Harvard afirmou: "Com a sua notável fluência em muitas línguas, e o seu profundo conhecimento das literaturas e filosofias de várias culturas, Steiner é um dos maiores "comparatistas" do mundo."
Livros publicados entre nós no corrente ano: “No Castelo do Barba Azul”, do Relógio D` Água, “Anno Domini”, “A Ciência Terá Limites?”, “Os Livros Que Não Escrevi” e “Provas e Três Parábolas” , das Publicações Gradiva.

Escreve Clara Ferreira Alves (CFA):
“O nome impõe um respeito imediato. Para os admiradores, ele é o crítico de literatura mais consistente e mais influente de todo o século XX. O autor de uma dezena de livros fundamentais para compreender o mundo em que vivemos e o mundo em que pensamos e escrevemos. (…) Os seus leitores formam uma comunidade, como escreveu John Banville, inclusiva. Quase religiosa, dir-se-ia. Muito mais do que Harold Bloom, Steiner é o último sábio, o grande humanista. Que resiste ao lugar-comum e ao «kitsch» do pensamento contemporâneo.
Ouvi-lo é um prazer, um exercício da lucidez que já não existe. Ele diz que não poderia viver sem Schubert, nem sem xadrez, nem sem os passeios nas montanhas da Suíça, país onde é tratado como Professor Emmeritus, em Genève. Em Cambridge, onde vive e lecciona, é famoso pelas suas opiniões e o seu génio. Em Oxford, é Honorary Fellow e em Harvard é recebido como um mestre. A sua tradição é a de uma Europa que respeita os saberes e constrói o prestígio das universidades. O seu mundo é o dos livros, que não lhe desviam a atenção dos problemas do século. “

Fui redescobri-lo nos meus arquivos numa entrevista notável feita por Clara Ferreira Alves e publicada no semanário “Expresso” (?) quando, também não sei. Resolvi publicá-la em sucessivos artigos, possivelmente estarei a violar “copyrights” mas o meu interesse é apenas divulgar conhecimentos que, de outro modo, iriam jazer “ad eternum” em arquivos informáticos ou poeirentos.
A entrevista inicia-se com um assunto de extrema actualidade: a crise económica.

CFA - Já escreveu sobre a morte da tragédia. E a anunciada morte do romance?
GS - Muito poucos romances são sobre pessoas crescidas, hoje. Existe uma terrível infantilidade na maioria da ficção. O romance não conseguiu tratar os grandes assuntos do nosso tempo. Alguns textos trataram os horrores do século XX sem serem completamente inadequados, mas são poucos. E se acreditarmos que o nosso mundo está todo a ser transformado pela ciência, em todos os aspectos, com três grandes portas que se abrem, o romance falhou. A primeira é a criação de vida molecular, que mudará tudo, a lei, a filosofia, a teologia, tudo. A segunda, os limites do universo e a teoria de Hawking e por aí fora. E terceira, a compreensão da consciência. Quando digo Eu ou Tu, estou a falar de quê? De açúcar no sangue, ou de uma certa combinação de macromoléculas de carbono? Ninguém, desde Musil, ou Thomas Mann, tentou sequer mostrar a vida da ciência, na mente e nos sonhos. Talvez os escritores mais importantes tenham sido os que escreveram ficção científica, Asimov, Clarke...
CFA - Philip K. Dick?
GS - Absolutamente, ele previu tudo, dos satélites artificiais ao Valium, o Valium que já estava n’«O Admirável Mundo Novo» do Aldous Huxley, um livro brilhante de um homem que tinha sido treinado pela ciência. Eu acho que existe uma preguiça do romance, não faz o trabalho de casa. Não existia um ramo da ciência que Milton, ou Dante, ou Shakespeare, não conseguissem espreitar. Quem, entre os grandes escritores, consegue falar da grande crise económica, como o fizeram Balzac ou Zola, ou um menos conhecido, o Trollope, na Inglaterra, com «The Way We Live Now»? A primeira grande crise dos ciclos económicos. Eu sou muito impopular em Inglaterra por causa de dizer que a maioria dos nossos romances são sobre adultério em Kensington."

(continua)

quinta-feira, dezembro 4



Nassim Nicholas Taleb, O Cisne Negro,
- O Impacto do Altamente Improvável
,
P. Dom Quixote, Lisboa, 2007

Revelador, profético.
A crise financeira explicada
antes de ter ocorrido.

Taleb, matemático, filósofo, e financeiro
debruça-se sobre a falácia da curva de Gauss
- a das probabilidades em forma de sino -
a qual faz crer como improváveis, eventos extremos
o que, no mundo das ciências sociais, como no da física
dos eventos 'escaláveis', se comportam mais pelas curvas
de potência, como os replicados pela geometria fractal...

No fundo, o venerável Popper preside ao conceito:
não são comprovativos os factos corroborativos
de um sistema explicativo do mundo:

- Qualquer contraprova negativa
obriga a revisionar a teoria.

Assim, a crise financeira do subprime
e o credit crunch da banca desregulada!

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quarta-feira, dezembro 3

Apagar

Voltei a apagar. De tempos a tempos volta com muita força o meu desejo de apagar tudo. Talvez não goste mesmo nada de pesos, de palavras escritas no lugar da memória, talvez…
Talvez eu sonhe sempre e afinal em caminhar pela vida carregando uma pequena mochila com uma escova de dentes, um livro de bolso e a minha NIKON.
E sobretudo o que me é mais caro, aquilo que não posso deixar de trazer comigo: os meus olhos. Viver como quem viaja, ver, ver sempre, ver tudo, ver muito, ver a superfície, ver o interior das coisas.

“É sobretudo a vida, compreendes?
O sol que vejo da minha janela e que não posso escrever: não poderei nunca escrever! Nem o sol, nem nada de essencial. Mesmo a essência das coisas, se a descubro, deve servir-me para orientar o olhar e os passos, e não para escrever.

Os textos morrem como tudo e, em última análise, quando isto acabar, nada restará de nós. Mais vale entregar à terra um esqueleto cansado, uns olhos que não se fecharam, um corpo corroído pelo sol, a escrever.

Escrever sim volta-se sempre lá, volto lá já amanhã apesar disto que digo, voltarei muito provavelmente a fazê-lo aqui, mas não é nada, escrever é uma espécie de exigência metafísica, como questionar é outra exigência metafísica e no fundo, bem no fundo das coisas, não há razão metafísica para o fazer.

Estou longe, compreendes, estou perdidamente longe e onde estou, nada disto faz o menor sentido.”

Continuo porém, com receio que ela não goste deste «presente de anos»...
Mas apagarei toda a recordatória, se mo pedir.

E replico agora, no mesmo modo de outrora:

“Mas a escrita é o único traço de união dos separados no tempo e no espaço, mesmo que nesta condição digital este mingue à correspondência de um sorriso.”

(Texto a incluir no livro “nuvens” a publicar)

terça-feira, dezembro 2

Atenas – Acrópole (as Cariátides)



As Cariátides no Erection, são colunas com a forma de estátuas de mulheres, que suportam na cabeça todo o peso do entablamento e da cobertura do templo de Erecteion, dedicado a Erecteu, rei mítico de Atenas.
Numa das duas versões do mito, ele é identificado com Erictônio, meio homem, meio serpente (e daí existir no templo uma serpente, a quem se oferecia uma maçã, sendo mau presságio se ela a recusasse) e cujo nome significa “nascido do solo”, o que denuncia as suas origens ctónicas.
O nome de Cariátides era devido ao facto de serem donzelas originárias de Cárias, cidade grega da Lacónia.

O templo, construído entre 421 e 405 a. C. por Menésicles, é tido como o mais belo monumento em estilo Jónico e serviria também, sob o ponto de vista arquitectónico, para contrabalançar discretamente o Partenon.

Foi um prazer poder fotografá-las.

(foto Peter)

“Vamos a caminho de ter só duas estações”

Correio da Manhã – Este frio vem antes de tempo?
Anthímio de Azevedo (meteorologista) – Nós é que precisamos de acertar os nossos relógios biológicos pela realidade astronómica. Está dentro da tendência de evolução normal, irreversível do ponto de vista astronómico, da crescente inclinação do eixo da Terra, que já vai nos 24 graus e leva por exemplo os equinócios a começarem mais cedo, as andorinhas a aparecerem mais cedo e algumas plantas a nascerem mais cedo. São fenómenos com periodicidades muito grandes, neste caso são 28 mil anos.

CM – Quais as consequências?
AdA – Vamos a caminho de ter situações meteorológicas muito parecidas com regiões de latitudes mais a sul como Cabo Verde ou Guiné, com apenas duas estações do ano: uma estação seca e outra de chuvas. Com diferenças, como este frio é exemplo, porque estamos mais perto do Pólo Norte e há mais influência continental.

CM – A acção do Homem não contribui então para isto?
AdA – Os disparates do Homem, como a poluição, também têm influências negativas e têm vindo a perturbar isto tudo. Hoje (dia 29) acordei às 06h45, fui ver imagens de satélite no “site” da Universidade de Dundee e vi o Atlântico como nunca o tinha visto. Invadido por ar frio, sobre um oceano quente e todo coberto com faixas nebulosas. Isto explica este tempo: o oceano envia ar húmido e quente, que com o frio condensa e provoca nebulosidade , com estas condições de instabilidade em que chove um bocado e pára.

CM – Por que é que Portugal quase sempre escapa a grandes tragédias meteorológicas que sucedem aqui ao lado, em Espanha e França?
AdA – Estamos numa situação geográfica privilegiada. Se formos mais para o interior há os problemas da continentalidade, com maiores diferenças de temperatura. Nós estamos perto do mar e temos o estabilizador da presença da água.

(Entrevista de Bernardo Esteves, Correio da Manhã , 29 NOV 2008)

segunda-feira, dezembro 1



Não há como vê-lo
nesta noite sem luar —
estou deitada e desperta,
os seios ardendo em desejo
e o coração em chamas.


Ono No Komachi (834?-?)

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